sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Em conversa com um velho erudito...







Ao mergulhar no íntimo da alma humana me deparei, de maneira inesperada, com uma terra de cenários múltiplos. Um universo de sombras indistintas despejando ecos de esperança revela sua grande força.

Uma metáfora orgânica isolada até a morte e erguida por arcos esculpidos acena para as manhãs antes de outro disparo. Olhando para o corpo opaco no alto, vi no canto escuro do passado a noite inacabada. Engolido pela escuridão mergulhei solo abaixo. Movendo-se lentamente encontrei um vulto desiludido, que vivia num palácio disfarçado, com os rumos da coletividade. Era assim que ele chamava a velha choupana. Ali, doente de corpo e de alma, discutia a filosofia e fumava charutos como era de costume.

Pelas ruas da cidade enunciava por escrito estranhas notas denunciando as autoridades constituídas. Sem alterar sua rotina por causa de ninguém se dirigia sempre as quintas-feiras, a assembleia dos poetas remanescentes e miseráveis. Para alguns aquele recinto era um paraíso artificial e vulgarmente exótico, era um espaço constituído de seres mortos.  

O romantismo libertário estava sempre presente a cada encontro. Ao adentrar a sala escura notei que vozes soavam abafadas à medida que ia se aproximando. Cânticos e declamações entrelaçavam e projetavam-se naquela dependência ampla e de atmosfera agradável. Por um instante, percebi que a sonoridade da melodia devocional pontilhava uma vasta paisagem a minha frente.

Um conselheiro, pacientemente, denunciava a estupidez humana. Ele sorriu e olhando em minha direção cruzou os dedos. A força de suas palavras era como ver a si mesmo fora do corpo. Era algo que transcende a natureza física das coias; completamente metafísico. A densidade de tais palavras pairava no ar como pássaros livres. Ao ouvir o nobre discurso passei a ver o mundo em volta com outros olhos.

Compreendi que a queda da hegemonia era questão de tempo. Havia um brilho agradável no olhar dos presentes. O velho erudito em voz alta disse:

— Um vetor teleológico não revela o retrato da vida social!

Em largos traços, a obscuridade produzida pela ignorância dos homens deixa de existir pelo menos naquele lugar. Assim, a poesia com sua claridade intensa e tingida pelas cores que o louco poeta criou, incide luz direta em nossas consciências nos afastando da escuridão.

Um pequeno e insignificante surto psicótico em conflito com a realidade atinge minha percepção e quando retomo a consciência não havia mais ninguém ali... Com certeza, quantos becos, ruas e caminhos hão de se percorrer em busca do teu canto.  


Dedico esse texto em memória a meu avô materno, Alípio Leandro de Lima, "Mestre Alípio", pelo exemplo de vida e aprendizado.

José Lima Dias Júnior, 02/08/2013

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