Ao mergulhar
no íntimo da alma humana me deparei, de maneira inesperada, com uma terra de
cenários múltiplos. Um universo de sombras indistintas despejando ecos de
esperança revela sua grande força.
Uma metáfora
orgânica isolada até a morte e erguida por arcos esculpidos acena para as
manhãs antes de outro disparo. Olhando para o corpo opaco no alto, vi no canto
escuro do passado a noite inacabada. Engolido pela escuridão mergulhei solo abaixo.
Movendo-se lentamente encontrei um vulto desiludido, que vivia num palácio
disfarçado, com os rumos da coletividade. Era assim que ele chamava a velha
choupana. Ali, doente de corpo e de alma, discutia a filosofia e fumava
charutos como era de costume.
Pelas ruas da
cidade enunciava por escrito estranhas notas denunciando as autoridades
constituídas. Sem alterar sua rotina por causa de ninguém se dirigia sempre as
quintas-feiras, a assembleia dos poetas remanescentes e miseráveis. Para alguns
aquele recinto era um paraíso artificial e vulgarmente exótico, era um espaço
constituído de seres mortos.
O romantismo
libertário estava sempre presente a cada encontro. Ao adentrar a sala escura
notei que vozes soavam abafadas à medida que ia se aproximando. Cânticos e declamações
entrelaçavam e projetavam-se naquela dependência ampla e de atmosfera
agradável. Por um instante, percebi que a sonoridade da melodia devocional
pontilhava uma vasta paisagem a minha frente.
Um
conselheiro, pacientemente, denunciava a estupidez humana. Ele sorriu e olhando
em minha direção cruzou os dedos. A força de suas palavras era como ver a si
mesmo fora do corpo. Era algo que transcende a natureza física das coias;
completamente metafísico. A densidade de tais palavras pairava no ar como
pássaros livres. Ao ouvir o nobre discurso passei a ver o mundo em volta com
outros olhos.
Compreendi que
a queda da hegemonia era questão de tempo. Havia um brilho agradável no olhar
dos presentes. O velho erudito em voz alta disse:
— Um vetor
teleológico não revela o retrato da vida social!
Em largos
traços, a obscuridade produzida pela ignorância dos homens deixa de existir
pelo menos naquele lugar. Assim, a poesia com sua claridade intensa e tingida
pelas cores que o louco poeta criou, incide luz direta em nossas consciências
nos afastando da escuridão.
Um pequeno e
insignificante surto psicótico em conflito com a realidade atinge minha
percepção e quando retomo a consciência não havia mais ninguém ali... Com
certeza, quantos becos, ruas e caminhos hão de se percorrer em busca do teu
canto.
Dedico esse texto em memória a meu avô materno, Alípio Leandro de Lima, "Mestre Alípio", pelo exemplo de vida e aprendizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário