quinta-feira, 31 de julho de 2014

Fim de tarde

Imagem: Nuno Barreiro, fotógrafo espanhol.


Sou o que resta de mim
mesmo que as linhas curvas
e alongadas das manhãs em transe
conserve a sensação de melancolia.  

Um guache recortado na boca da noite,
muito embora de formato reduzido,
não tardou a conhecer o espaço livre e vazio
das paisagens sombrias e dos rostos marcados
por um vão interior.

José Lima Dias Júnior – 31.07.2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Para além de mim

Imagem: Jorun Larsen, Noruega


É certo que minha realidade,
recheada de rostos
e de veredas de sonho,
parece situar-se fora do tempo,
cujo rasto se perde para além de mim,
onde arcada de ruas desertas,
linhas puras, simplificadas,
sem sombras, sem traços
define o mundo real.

José Lima Dias Júnior – 30.07.2014

terça-feira, 29 de julho de 2014

Quando resguardei os olhos de coisas profanas

Imagem: Jay Satriani, fotógrafo indonésio.


Evitando o simplismo reencontrei
todos os caminhos que há em mim
e compreendi a complexidade de nossas
experiências históricas.

Encontrei um futuro debilitado
pela esclerose do presente,
que apesar dos cantos sombrios
e dos sonhos decrépitos
não conseguia driblar a ilusão
mesmo que abraçasse a morte
e não a vida.


José Lima Dias Júnior – 29.07.2014

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sobre o cais

Imagem: Nuno Araujo, fotógrafo português.


Veja que amabilidade
às aves avistando o cais.
O verde da vegetação
sem incomodar a linha
do horizonte.

Como num jogo de curvas
um emaranhado de ramos nus
acena para a monotonia das ondas
mesmo que o mar seja revolto.

José Lima Dias Júnior – 28.07.2014


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Quando atingimos o mesmo fim

Imagem: Saiad Pishdadi, fotógrafo norte-americano.


Minhas dores fortemente enraizadas
se alimentam de formas & sensações
colhidas na realidade visível
mesmo que os dias sejam difusos,
onde o tempo com suas variantes discretas
negam a existência.

José Lima Dias Júnior – 25.07.2014

domingo, 20 de julho de 2014

Realismo agressivo

Imagem: Caner Baser, fotógrafo turco.


Sem a invenção poética
a realidade se torna estranha
parecendo linear e contundente
com que reflete o sofrimento
que se encontra na existência humana,
onde o denominador comum é a angústia,
caracterizada por um realismo agressivo.

José Lima Dias Júnior – 20.07.2014

sábado, 19 de julho de 2014

À procura...

Imagem: Gianluca Trozzi, fotógrafo italiano.


Saí em busca de uma luz mais intensa
para manter seus demônios à distância
onde raramente exprime a alegria.

Através da acentuação dos contornos
conheci uma existência inquieta
de serenidade inalcançável
que revelando o encurvamento das linhas
ocultava a realidade sórdida e miserável 
da vida quotidiana.

José Lima Dias Júnior — 19.07.2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Por caminhos mais simples

Imagem: Jay Satriani, fotógrafo indonésio


Espiando a luz do sol,
vi a angústia das labaredas do arrebol
em estarem no horizonte enquanto caíam suas cores,
revelando misteriosamente à natureza íntima das coisas.

Sem recorrer à ilusão da perspectiva,
uma força viva [indissoluvelmente] exterior ao homem
e às relações humanas parecia impossível de harmonizar
com os traços oblíquos ou concêntricos quando devia ser vista
por si mesma.

José Lima Dias Júnior – 18.07.2014

quinta-feira, 17 de julho de 2014

O desenlace da alienação

Imagem: Ian Munro, fotógrafo inglês.


Mesmo vivendo um frente-a-frente tão solitário
quero ser livre em minha arte,
ainda que haja um tempo tenso e difícil.

Meu desejo era transformar o tempo
em algo sólido e durável como a arte dos museus.
Porém, o que tenho é a longa conquista
da realidade aparente encetada desde o princípio,
reconduzindo-me para suas verdades essenciais.


José Lima Dias Júnior – 17.07.2014

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Por entre composições alegóricas

Imagem: Susanne Stoop, fotógrafa holandesa.


Manchas de luz
rompendo as manhãs
tornam-se mais vivas,
mesmo que sua enfermidade
imobilizada no centro de um espaço
não se satisfaz com uma claridade qualquer.

Sem reduzir seu brilho difuso,
as cenas da vida quotidiana nos comovem
pela candura, pela ingenuidade poética,
onde as cores girando em torno de si mesmas
tingem os céus subitamente povoados
por uma incrível variedade de pensamentos
que avançam em percursos paralelos,
que tão brilhantemente acabara de afirmar-se.

José Lima Dias Júnior – 16.07.2014

terça-feira, 15 de julho de 2014

Para desfazer a dor

Imagem: Simona Forte, fotógrafa italiana.


Por entre os descaminhos
conservei as tonalidades
– escuras e contrastadas –
em oposições de tons e de formas
para desfazer a dor.

Preparei a cor pura
– com tanto agrado –
com a intenção de imprimir
toda a etérea tranquilidade das manhãs
que sacrificando suas luzes  viu o Sol
dissipando a bruma da madrugada.


José Lima Dias Júnior – 15.07.2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Emoldurando o tempo

Imagem: Thorsten Schnorrbusch, fotógrafo alemão.

 Parece-me que a moldura obedece,
por uma superfície plana,
às linhas e aos pontos de fuga da perspectiva,
mesmo que julgamos ver aquilo que não vemos.

Mas, se quisermos reconstruir a realidade,
é necessário que o nosso ângulo de visão
não perca de vista o emaranhado de cores diversas,
mesmo que as imagens estejam inacabadas.

José Lima Dias Júnior – 14.07.2014

sábado, 12 de julho de 2014

A inocência do olhar

Imagem: Mustafa Zengin, fotógrafo turco.


Quando os efeitos fugidos
da água e da luz fizeram luzir
as flores e os aromas de uma estação
revelaram em todos os seus movimentos
a inocência do olhar procurando compreender
a origem de todas as coisas.

José Lima Dias Júnior – 11.07.2014

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Tempos difíceis

Imagem: Susanne Stoop, fotógrafa holandesa.


Diante da triste realidade
cabe à poesia dizer qualquer coisa,
e qualquer coisa de sublime,
elevando a alma
sem os homens abominar a liberdade,
mesmo que um desejo sórdido
infecte as cores matinais,
que emigram no tempo e no espaço.

José Lima Dias Júnior – 11.07.2014

quinta-feira, 10 de julho de 2014

pelo sol da alma

Imagem: Susanne Stoop, fotógrafa holandesa.


Mergulhada
numa luz oceânica
a poesia do imaginário
traz tudo à superfície
& harmoniza a luz
ao jogo estrutural das palavras.

Indispensável à claridade
ou ao rigor do visível
multiplica as paisagens indistintas
onde as ninfas dançam nas clareiras
e nos bosques do único ponto vermelho
cujo reboco ardente das paredes salpicado de ouro
revela o contato com uma realidade perdida
que se proclama igual ao belo e ao sublime
quando caminhamos pelo sol da alma.

José Lima Dias Júnior – 10.07.2014


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Na profundidade das coisas

Imagem: Mustafa Zengin, fotógrafo turco.


Os devaneios
tornam mais visíveis
os traços abreviativos
e elípticos das manhãs
quando leva(m) a alquimia da poesia
o mais longe possível.

Viver é uma tarefa tão árdua,
que cabe a nós alcançar simultaneamente
o visível e o encanto para seguir adiante,
mesmo que a profundidade das coisas
seja inapreensível.

José Lima Dias Júnior – 09.07.2014

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sua humanidade

Imagem: Natalia Baras, fotógrafa espanhola.


Quando apreciei
a sua humanidade
minhas dores se perfilaram
no espaço ilusionista da perspectiva,
embora fosse acolhido com desdém.

Os dias foram tracejados,
em instantes trêmulos,
entre a luz e a sombra.
Tua solidão é um refúgio vivo,
um meio de comunicação,
quando vejo a tarde cair,
mesmo atento aos efeitos
momentâneos da luz.

José Lima Dias Júnior – 08.07.2014

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Cataclismo

Imagem: Radovan Skohel, fotógrafo eslovaco.


Desfigurado
pela indiferença,
o homem causa
o exílio da alma.
Assim, acabará
por morrer as árvores
que emergem das rochas
sem sentir o peso
e a eternidade da terra,
porém (in)compreensível.

Figuras mórbidas agrupam-se
sob o recorte de uma encosta,
cujo horizonte calmo e profundo
toca o céu com tonalidades
que irrompem num clarão onírico
a chuva oblíqua
que devora as formas débeis idealizadas,
onde uma outra força prepara o porvir.

José Lima Dias Júnior – 07.07.2014

domingo, 6 de julho de 2014

Estreitos limites



O tempo desloca-se por estreitos limites
na justaposição de traços vigorosos,
espessamente modelados, onde aflora
da superfície do barro espesso a matéria rugosa,
mesmo que a incandescência de um Sol rasante
brote do contato dos olhos com o visível.

José Lima Dias Júnior – 06.07.2014

Imagem: Web/Google 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Ato sedicioso

Imagem: A Balsa da Medusa (Le Radeau  de la Méduse), 1819, de Géricault Théodor. 


Estilhaços ardentes nos atingem
mesmo que a nau não esteja
em condições de navegar.

Aqueles rostos tresloucados
apresentam a nudez majestosa dos antigos; 
modelados através da sombra e da luz,
mesmo que prolongue o claro-escuro
e uma penumbra terrível,
onde se debruça da alcova não só a morte,
mas a loucura e a angústia ainda recentes.

José Lima Dias Júnior – 04.07.2014

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Das tonalidades mais sombrias

Imagem: BJ Yang, fotógrafo alemão.


A magia do quotidiano
produz obras agradáveis
longe das tonalidades mais sombrias.

Mas sem devanear,
o homem (ermo e triste) adoece gravemente.
É visível o vazio do rosto dos loucos
que vivendo entre a serenidade transcendente,
(que o tempo não permite recusar)
e às demandas do mundo ensandecido,
sem nada conservar do passado.

José Lima Dias Júnior – 03.07.2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A sombra do imensurável

Imagem: Emilian Chirila, fotógrafo romeno.


Em intervalos de tempo iguais
um corpo limitado observava
a continuidade dos movimentos orbitais,
que povoado por um número infinito de mundos,
viu a alma humana silenciar diante de tantos ais.

Antes de medir os céus percorri o firmamento
e descansei a sombra do imensurável
após remover as barreiras que criei.

José Lima Dias Júnior – 02.07.2014

Por caminhos distintos

Imagem: Emilian Chirila, fotógrafo romeno.


Procurei por caminhos distintos
a pureza das formas
e encontrei nas fronteiras do sonho
a fusão das cores vivas
que concebia de tons puros e simples
a imaginação em liberdade,
embora pressentisse a força da procela
iminente sobre a face do abismo.

José Lima Dias Júnior – 02.07.2014