terça-feira, 29 de abril de 2014

Traço ancestral



Caiu no descrédito
quando se alimentou das falácias
sobrecarregadas pela presunção
das formas primitivas de humanidades.

Quando os fósseis vivos traçaram
uma linha demarcando o homem
vi que um notável mosaico
de traços morfológicos ancestrais
não era constituído de cores aberrantes e infelizes.


José Lima Dias Júnior – 29.04.2014

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lânguidas faces

 
Imagem: Lee Jeffries, fotógrafo inglês.

Continuei a viver
do capital conceptual
dos meus antepassados
que em virtude da expansão
das figuras transcendentais
quase sempre marginais
são estreitamente definidas
pelos ritos de iniciação que herdamos
ao expressar as formas simbólicas pelas quais
nos comunicamos para além do bem e do mal.

José Lima Dias Júnior – 28.04.2014

Imagens: Lee Jeffries, fotógrafo inglês.

domingo, 27 de abril de 2014

No silêncio das horas...

Imagem: Lee Jefrries, fotógrafo ingês.

Um profundo silêncio tece
as horas intermináveis em ponto de cruz
quando os murmúrios de solidão choravam
sua melancolia em segredo.

O tempo se tornou enfermo
quando os instantes caíram doentes
e num intervalo vago e remoto a solidez da manhã
se refez com as chuvas prematuras que banha um
tempo emudecido.

José Lima Dias Júnior – 27.04.2014


Fotografia: Lee Jeffries, fotógrafo inglês.

sábado, 26 de abril de 2014

Ultrapassando os instantes que criamos

Imagem: Ihdar Nur, fotógrafo indonésio.

Na superfície do mundo
há uma estrutura alienante de base sólida
que repousando na verdade dominante
faz os homens conhecer(em) todas as formas
vivas da loucura.

Exposta a seu olhar,
a luz demasiadamente brilhante
torna-se inteiramente clara
quando nosso desatino não se obscurece
e a partir dele ultrapassamos de um lado e do outro
a realidade que criamos.


José Lima Dias Júnior – 25.04.2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Quando a minha loucura se aproximou da razão

Imagem: Lee Jeffries, fotógrafo inglês.

Minha loucura
absorta em si mesma
está inteiramente entregue
a seus próprios excessos.

Ela esboça uma natureza humana
quando é indiferente a inverdade de
suas ilusões.

No ponto extremo da minha solidão,
o desatino fez morada jurando inocência e segredo
a verdade absolutamente estranha ao mundo moral.

José Lima Dias Júnior – 25.04.2014

Imagem: Lee Jeffries, fotógrafo inglês.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Vigília

Imagem: Lobo Ademeit

A alma em vigília repousa
e observa o corpo se encher de ímpeto
mesmo que esteja associado a realidades subjacentes.

No curso da existência as deusas dadivosas
provocaram em nós um sentimento vago de felicidade
que somos obrigados a compartilhar.

Daí que nossos olhares se ocultam quando se exilam d’alma
e a melancolia, esperançosa, espera um dia se tornar alegria
mesmo que um punhado de instantes marginais seja longo,
complexo e estreitamente ordenado.


José Lima Dias Júnior – 23.04.2014

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Medo de acordar

Imagem: Bella von Einsiedel

Abandonei uma inquietação imaginativa
para compreender a amplidão das suas abstrações.
Banhei-me com a água do amanhã antes que o sol
derretesse a esperança suspensa no ar.
Vi o futuro decodificar as vozes desconhecidas abissais
que pra lá do fim do mundo indaga a importância aparente
das coisas e às realidades que estão por vir.
Tenho medo de acordar e ver as inverdades sobrepondo
e obscurecendo o que é verdadeiramente humano em nós.

José Lima Dias Júnior – 21.04.2014


Imagem: Bella Von Einsiedel, fotógrafa alemã.

domingo, 20 de abril de 2014

Restos de sonhos

Imagem: Michael Billota, fotógrafo norte-americano.


Dedico a amiga Mari Alves pela manifestação de afeto e simpatia.


A noite inundada de luz
adormecia com seus versos absortos.
E a palavra martelando a cada instante a matéria árida
colhia confidências profanas de um ventre petrificado
pela curva luminosa de um rio.

O sol chegara, florescendo a natureza onde as rosas lívidas
insepultas eram acariciadas pelo vento insípido.
Com lápis de cor desenhei os instantes, cujas palavras e imagens
se escondiam detrás das lembranças e o passado olhando de lado
querendo voltar.


José Lima Dias Júnior – 20.04.2014

Instantes de açoites

Imagem: Zdzislaw Beksinski, pintor polonês.

Como a esperança demorou a chegar
criei um esteio num grão de areia.
Por não suportar a solidão
meus olhos umedeceram-se de pranto
quando afastei o absurdo visível com uma pedra de sal.
Capturei daquele mundo amplo pequeno um microcosmo
e quando os instantes do presente foram reduzidos a cinzas
vi que o solo gretava-se assuntando meus pés caminhantes.


José Lima Dias Júnior – 20.04.2014

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Quando encontrei a felicidade

Imagem: Emerald Wake

Quando sua opacidade
tenta dissolver minha luz
sua alma imberbe patina
pela imundícia da vida terrena.

De aparência oca
seus fragmentos de luz
(feitos trapos esquálidos)
enfeitam a inércia
de um espaço de solidão
repleto de silêncio e esquecimento.

Olhando para as lembranças
revisitei o passado e encontrei
na escuridão absoluta do vazio
a felicidade de cor viva e brilhante,
bailando, alada, feito pirilampos.



José Lima Dias Júnior – 18.04.2014

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Abstraindo o impossível

Imagem: Ketil Nascido, fotógrafo norueguês.

Esclarecer todos os pontos
obscuros que há em nós
é experimentar cada extensão possível
de nossas subjetividades,
com generalizações e derivativos que nos pertence.

Quem enfrentou a tempestade
não sabe o que é estar submetido
à padronização de um modelo canônico
que incoerente nos faz aceitar uma forma de pensar,
sentir e acreditar, absolutamente, única.

Meu universo com seus arranjos musicais
transcende sua existência material onde na chuva miúda
vejo uma sequência de sons modulados na transversal do tempo.


José Lima Dias Júnior – 17.04.2014

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Inocência

Fotografia: Alessandro Risuleo

Na aparente inocência da luxúria
os atos da carne se interrogam
do prazer dos dias vividos juntos
onde na intensidade de suas afeições
os desejos são capazes de atingir a alma
como o perfume que toca a pele nua.


José Lima Dias Júnior – 16.04.2014

terça-feira, 15 de abril de 2014

Livre-arbítrio

 
Fotografia: Hossein Zare


Permaneci livre de qualquer escravidão
quando transformei meu próprio modo de ser
e não mais servindo as suas ordens defini
o que é permitido para mim.


José Lima Dias Júnior – 15.04.2014

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Desejos intensos

Imagem: Davide Abbatiello

Desprovido de substancialidade teus anseios,
fragmentados, gritam no fosso existencial onde
um comportamento arrivista triunfa a qualquer preço,
mesmo em prejuízo de outrem.


José Lima Dias Júnior — 14.04.2014

domingo, 13 de abril de 2014

Realidade mutilada

Imagem: Hari Sulistiawan

Quando abri o invólucro repugnante e infecto
criado por homens esquálidos e fétidos vi o ódio,
o rancor, a falsidade, o cinismo e a barbárie
serem mais uma nódoa na calçadas.

Vivendo a sombra do cotidiano vi mendigos
e crianças maltrapilhas se tornarem sociopatas
quando tiveram sua realidade mutilada pelo sadismo
dos seus algozes.

Diante do grito humano
vi que o último resquício de humanidade
foi negado para legitimar a banalidade do mal.
Porém, quando me lancei ao fulgor das luzes
compreendi que a vida é algo efêmero inserido no tempo.


José Lima Dias Júnior — 13.04.2014

Suavizando

Imagem: Michael Bilotta

No absoluto espaço imaginário e indiviso que criei
juntei partes sólidas das partículas espalhadas por deus
para mitigar as relações humanas.  

Materializei e eternizei a existência
quando dei movimento e vida a imobilidade
que indistinta caminhava no horizonte dando voz 
aos eternos silenciados. 

José Lima Dias Júnior – 13.04.2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

quando perdemos...

Fotografia: Adrian Limani


Perdemos a consciência de existir quando perdemos o elo com o mundo.

José Lima Dias Júnior — 10.04.2014


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Minhas lembranças...

Fotografia: Ranko Djurovic

Nossos atos e nossas palavras
deságuam no tempo e no espaço
das circunstâncias (in)definidas
de um dado abstrato
que certamente encontrei
quando não lembro de nada.

E esse espectro artificial
que adquiriu aparência de coisa viva
reflete num espelho turvo alguns traços
e alguns contornos de um talvez ilusório.

Restos de sonhos espalhados pela sala
adormecem esperando pela materialização das manhãs,
onde um rastro de memória se cristaliza em uma massa
consistente de lembranças.

José Lima Dias Júnior – 09.04.2014

terça-feira, 8 de abril de 2014

Em silêncio


Tudo estava tão sereno diante dos meus olhos,
mas quando entrei naquela casa e vi sobre a mesa
restos de lembranças adormecidas no fundo do prato
contabilizei minhas perdas (tão desbotadas pelo tempo)
antes que o fim se aproxime.


José Lima Dias Júnior – 08.04.2014

Vivendo além da margem

Fotografia: Normann Thielen

Troquei os seus lamentos
pela loucura dos deuses
que é a única que realiza
e anima permanentemente
a nossa existência.


José Lima Dias Júnior – 07.04.2014

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ontem

Imagem: István Kerekes, fotógrafo húngaro

Parece-me que foi ontem
quando o passado veio entregar
às lembranças que deixei no canto da sala
e o tempo sem reclamar me pede pra ficar.

Restos de minha existência pela casa,
tão escondidos que chega sufocar o instante presente
para que nenhuma memória paralisada em momentos felizes
respire o ar solitário que o pretérito deixou.

José Lima Dias Júnior – 07.04.2014

Sob as aparências...


Na trama da vida coletiva
o homem não se despoja
de sua essência platônica
cujos sonhos mutilados adormecem
sob as aparências discretas 
de amabilidade e de silêncio.


José Lima Dias Júnior – 07.04.2014

Modo de vida imperante

Imagem: Hilde Ghesquiere

Aquele modo de vida imperante
que conduz a barbárie social
repousa nos entrecruzamentos
de um espaço cristalizado
já que uma parte de si mesmo
imita a passividade da matéria inerte,
onde se defrontam as projeções utópicas
e as construções arbitrárias.


José Lima Dias Júnior – 07.04.2014

domingo, 6 de abril de 2014

Inexatidão


As inverdades se desenrolam
num percurso que obedecem a uma rigorosa lógica
e transcendem os limites históricos,
mesmo como um assento superado pelo tempo
e pelas modificações sofridas pela realidade social.
Assim, os acontecimentos são produtos de relações históricas
crescentemente complexas e mediatizadas pelo discurso dominante.


José Lima Dias Júnior – 06.04.2014

Vago humano

Arte: Karina Marandjian

Os dogmatismos reconhecem a legitimidade
desta reserva humana amorfa e inerte, onde
ficará óbvia a luz que exibe em cada olhar,
com todas suas diferenças e contradições.

A prosaica realidade do mundo burguês
(em face das misérias contemporâneas)
refugiava-se num passado idílico,
cujo sol em desordem surge como um raio
inesperado em céu sereno.


José Lima Dias Júnior – 06.04.2014

sábado, 5 de abril de 2014

Ente

Arte: Karina  Marandjian

Esse ente que sou
percorre por entre outros entes
que se tornam acessíveis dentro do mundo,
embora também (não) se excluam.

Encontrei no outro
a compreensão do ser em si mesmo
quando antecipei  os passos para o abismo.

José Lima Dias Júnior – 05.04.2014

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Por fim...

Arte: Karina Marandjian

Afinal,
olhaste
temeste
sofreste
caíste e choraste
quando o autoritarismo imperou em nome do poder.

Acolheste a desgraça que te deram
quando sentiste a dor do outro e o outro
passou a ser você no instante em que te compreendeu.

José Lima Dias Júnior – 03.04.2014 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

in utero

Arte: Karina Marandjian

Nada resiste ao tempo
nem a solidez que nos atrai
e arrasta para dor e miséria,
nem o movimento em repouso
que preenche de luz e sombra
o céu e a terra, o centro e a periferia,
a fundura e a superfície... onde vivemos
e morremos a cada instante.


José Lima Dias Júnior – 02.04.2014

Entrelaçados

Imagem: Rafa Herrero

A vida e a morte
estão entrelaçadas
no tecido da existência humana.
Presença serena
no vigor silencioso
do mesmo nada criativo.
E o coração intrépido
nega tudo sem negar a si mesmo
quando se mantém fiel ao silêncio do ser.


José Lima Dias Júnior – 01.04.2014

terça-feira, 1 de abril de 2014

Para o que der e vier

Imagem: Beppe

Meus instantes solitários se amarram e se tecem
uns com os outros aonde quer que eu vá.

Minha esperança vive de acolher e aceitar,
em seus limites, o mistério da vida,
onde se recolhe um modo de ser.


José Lima Dias Júnior – 01.04.2014