terça-feira, 30 de setembro de 2014

Por entre a luz e a sombra

Imagem: Luis Sarmento, fotógrafo português.


Transitei por entre becos e lugares soturnos...
Àquela hora da noite a rua era deserta e sombria.
Mas reconheci o significado da frágil condição humana
que embarca, diariamente, numa comédia transcendental
esperando pelo auxílio do Cristo salvador antes que a esmola
dada para remir cativo seja negada.

José Lima Dias Júnior – 30.09.2014


Perdoe o silêncio involuntário

Imagem: Knartis, fotógrafo búlgaro.


O silêncio deve ser leitura
para ir ao encontro do ego
para refletir sobre o nosso
tempo.

Que abre portas e janelas 
para o eu-lírico
quando a alma em desassossego 
conserva e mostra 
como determinados fragmentos de um tempo 
são memórias vivas dentro de nós.

José Lima Dias Júnior – 30.09.2014

Ilusória liberdade

Imagem: Ali Noohi, fotógrafo iraniano.


No cerne de um mundo corroído pelos excessos humanos
há uma ilusória liberdade e fluidez social que leva
os homens fixar morada entre os mortos
para alcançar a imortalidade da alma.

Vivem numa profunda imersão em seus próprios pensamentos
onde permanecem impassíveis
já que nenhum deles está na mesma submersão da morte
quando se imerge no horizonte o último vestígio de terra.

José Lima Dias Júnior – 30.09.2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Tempos diferentes

Imagem: Bojan Dzodan, fotógrafo sérvio.


Arranhei o Sol com um graveto tisnado
e vi as nuvens esgarçadas tocarem o real
onde o vento assobiando o som da manhã
compõe uma quase canção de ninar,
trançando sua inocência diante do mundo,
quando devorava o ilusório tentando chegar
à miserabilidade da condição humana
mesmo que nossas indiferenças se cruzem
infinitamente antes que o tempo se cubra de ferrugem.

José Lima Dias Júnior – 29.09.2014

domingo, 28 de setembro de 2014

Do ente existente

Imagem: Veli Aydogdu, fotógrafo turco.


Cada mundo é um mundo-em-si.
Mundos humanos em torno de nós
nem sempre de acordo com o modo de pensar
do ente existente que num aglomerado de seres
se intercruzam numa teia de significados.

Nem tudo é inteligível pelo modo humano de ser.
Daquilo que nós mesmos somos...
daquilo que se pretende conhecer.
Dos instantes na janela ouvindo o vento dizer
que a primeira claridade anuncia o alvorecer.

José Lima Dias Júnior — 28.09.2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Desatino

Imagem: Martin Stranka, fotógrafo checo.


Minha loucura não indica
uma desordem da alma...
Ela tem parentesco com
seu desatino.
É que entre um e outro excesso
tínhamos intervalos de lucidez.

José Lima Dias Júnior – 27.09.2014

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Quando o pensamento deseja ser palavra

Imagem: Rui Palha, fotógrafo português.


Esse movimento alterado do pensamento
que se lança e nos leva em sua horizontalidade  
não segue direção alguma quando é preciso
descolorir a nódoa que há em nós
ainda que libertemos as palavras do isolamento
jogadas umas contra as outras como fins em si.

José Lima Dias Júnior – 26.09.2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Para um mesmo fim

Imagem: Dan-Stefan Susa, fotógrafo romeno.


Expressar a alma humana
não é, porém, um fim em si,
mesmo que tenhamos
que beber em pequenos goles
o sobejo da morte.

As ruas, abandonadas e vazias,
tornam-se herméticas, fechadas...
Em silêncio cristalizam o tempo 
onde as visões pessoais endurecem 
e tornam-se dogmas hostis.

José Lima Dias Júnior – 25.09.2014

Terceira dimensão

Imagem: Ali Ayer, fotógrafo turco.


Estava em todas as coisas vivas
e nenhuma delas era insignificante.
A morte estava em que cada canto
esquecida em outra escala
que não fosse o ser humano
na totalidade do tempo que debruçou
sobre os excessos mais vulgarizados;
o que arrasta ou leva para além de nós.

José Lima Dias Júnior – 25.09.2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Sob o sol da manhã

Imagem: Ali Noohi, fotógrafo iraniano.


A cada pensamento fecundado,
aumentava em mim o desejo
de ser palavra e existir como homem livre,
vivendo entre homens livres, num país livre
mesmo que fosse preciso recortar a alma
para deixar entrar a luz e o ar de cada manhã. 

José Lima Dias Júnior – 24.09.2014

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quando o silêncio desvanecerá a dor

Imagem: Baicai, fotógrafo chinês.


Quando o espírito e a matéria se desvanecem
eis que o fluxo de vida chega ao fim e a morte surge
para além de todo o entendimento quando nos debruçamos
para além da mera superfície das coisas
ou para fora da aparência externa que não diz o que somos
mesmo que o silêncio, imóvel, esteja reduzido a escombros...
É a existência tomando forma.

José Lima Dias Júnior – 23.09.2014

Eu

Imagem: Martin Stranka, fotógrafo checo.


Perambulando nas vias do passado
presenciei o presente congestionado.
Meu éthos tem vestígios do humano
expresso no comportamento da alma.

José Lima Dias Júnior – 23.09.2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Reencontro interior

Imagem: Julien Arnaud, fotógrafo francês.


Um tempo já morto
ressoa neste instante,
como o silêncio
numa casa vazia.

José Lima Dias Júnior – 22.09.2014

domingo, 21 de setembro de 2014

Em cada lembrança...

Imagem: Piet Flour, fotógrafo belga.


E as estações continuam
a suceder-se em minhas memórias
onde cai em boa terra sementes
que a seu tempo germinarão em cada lembrança.
O tempo das impressões vivas e profundas,
não ainda endurecido e desumano pelo julgamento quotidiano.
O tempo que entra e sai com a fluidez das sensações pueris,
em ciclos, voltarão a emergir nas ações e nas obras do homem,
mesmo que as estações do presente imperfeito não derem folhas e frutos.

José Lima Dias Júnior – 21.09.2014

sábado, 20 de setembro de 2014

Um sol metafísico

Imagem: Leszek Paradowski, fotógrafo polonês.


O poeta nunca cansa de viver a vida
e de agradecê-la nos seus diversos aspectos,
mesmo que sofra a solidão da escrita
ou contemple o espetáculo da existência
nas suas infinitas e mutáveis aparências
sempre evocando um céu azul onde a cor vibra sob a luz
conseguindo de todo tornar-se pura e cristalina.

Gênio poético a dominar a fantasia com seus anjos cantores
anichados por entre os véus da abóbada, da qual,
espreita ao alto, no espectro solar as formas esvoaçantes
e de cores frias inseridas numa harmoniosa alegoria inimitável
de anjos e de meninos, quase um hino à mocidade.
Move-se num ambiente de luminosidade imponente e majestosa
um sol metafísico que surge sobre céus inventados pelo sopro humano.

José Lima Dias Júnior – 20.09.2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

À medida que o fim avança

Imagem: Ali Noohi, fotógrafo iraniano.


Há momentos cruciais, felizes
ou dramáticos em cada existência,
visto que a minha trajetória pictórica
é de absoluta incoerência quando se diferencia
da juventude matinal que há na alternância das luzes,
quase austera, mesmo que haja
uma aparente uniformidade compositiva
quando meus dias já cansados de existir perseguem
com rara tenacidade os instantes que lhes restam.
Assim, tão cheio de si mesmo vi o passado sem rosto
ser reduzido ao silêncio quando a solidão catava
os farelos de tempo espalhados pelo chão
à medida que o fim avançava.

José Lima Dias Júnior – 19.09.2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Onde os instantes se encontram

Imagem: Joaquin Mateos Pastorin, fotógrafo espanho.


Com cinzel e escopro forjei as manhãs
embora não fosse um soberbo artífice.
E o futuro não estando habituado,
a ver as coisas do presente, desanimou
vendo o tempo olhando o passado
que nunca passou.

José Lima Dias Júnior – 15.09.2014


domingo, 14 de setembro de 2014

Esperando a morte

Imagem: Web


Consolou-se da perda depois que suportou as feridas.
Limitado pelos contornos naturais dos rios, dos caminhos,
dos descaminhos, dos atalhos, das veredas,
dos fossos, das colinas, das fortificações...
das marcas impressas em teu rosto messiânico
permaneceu em silêncio de modo a conquistar
um fim de vida mais calmo.

José Lima Dias Júnior – 13.09.2014

sábado, 13 de setembro de 2014

Em meio à solidão da alma

Imagem: Eric Drigny, fotógrafo francês.


Sem o fulgor
dos olhos teus
apenas aprofundei
uma inexplicável solidão.
Desertifiquei minha esperança
quando a escassez das chuvas fez o pranto
desaparecer da margem arenosa da alma.


José Lima Dias Júnior – 13.09.2014

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Enternecido

Imagem: Mariano Belmar, fotógrafo espanhol.


Às sombras como à luz
caem tristemente
sobre o silêncio da madrugada
que avança lentamente,
onde os instantes penduram-se
adormecidos na órbita do tempo
devorando a fértil terra
diante do duríssimo sol do meio-dia.

José Lima Dias Júnior – 11.09.2014


Árido

Imagem: Miki Leir Levi, fotógrafo israelense.


A rocha carregada de silêncio
jaz sobre a superfície do deserto
quando o sol abrasador endurece
a terra circundante.

Nenhum poder por onipotente que seja
poderia detê-la em sua louca corrida para a solidão,
mesmo que a vida se precipitasse em tremendo
alvoroço.

José Lima Dias Júnior – 09.09.2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

De natureza frágil

Imagem: Julien Arnaud, fotógrafo francês.


O homem, debilitado pela hipocrisia,
torna-se desnudo ou frágil e, portanto,
mais propenso a enfraquecer
ou a tombar pela força dos vendavais.

José Lima Dias Júnior – 10.09.2014


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Na confluência das águas

Nima Karimi, fotógrafo iraniano.


Ergue-se a cara
do escarpado penhasco
nas verdes águas do rio.
A plena luz do sol o rio reflete
um azul quase turquesa, onde
o homem seguindo seu curso
tem uma aparência quase leitosa,
mesmo que na confluência das águas
os raios do sol conspirem para refletir
parte do verde azulado do espectro visível.


José Lima Dias Júnior – 08.09.2014

domingo, 7 de setembro de 2014

Olhando em frente

Imagem: Andraj Sonnenkalb, fotógrafo alemão.


Eis chegado o tempo de o homem
reconhecer a sua própria natureza
antes que seja reduzido a escombros,
a menos que se transforme num ser aceitável.

Antes que o fogo converta a lenha em cinzas
e o riso converta-se em pranto
é necessário compreender o silêncio,
tão profundo e tão majestoso, sobre as rochas nuas
quando nos convertemos num mar de areias mutantes.

José Lima Dias Júnior – 07.09.2014

Desesperança

Imagem: Lee Jeffries, fotógrafo inglês.


Cada talho em meu rosto
É um chanfro esculpido
Uma dor um gemido
Um alarido uma reza.

É a luz penetrando na fresta
É a fome gritando mais alto
É a desesperança que não crer
na verdade da fé...
É a morte batendo na porta
É a vida sem saber o que é.

José Lima Dias Júnior – 07.09.2014

Em silêncio

Imagem: Erol Ayyildiz, fotógrafo turco.


Ao longo de um ameno fluxo de silêncio me debrucei
para além da mera superfície das coisas, logo apercebi
sua inocência manifestada na mais simples,
mais modesta e natural das formas possíveis;
mesmo que o excesso de luz enfraqueça as cores
da sua esperança.


José Lima Dias Júnior – 07.09.2014

sábado, 6 de setembro de 2014

A chama

Imagem: Web/Google


Dentro de toda alma existe um lugar
onde sobrevivem as vigílias solitárias
que brotam da luz do fogo mais humanizado.
Sem fazer barulho, 
o silêncio toca de leve a luminescência 
e é instantaneamente absorvido pela mistura gasosa 
e incandescente que há na chama em estado latente.

José Lima Dias Júnior – 06.09.2014

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Por aí

Imagem: Alfredo Oliva, fotógrafo espanhol.


Não se trata de haver princípio ou fim
quando o abstrato e o indefinido
continuam onde estão.
Antes que a solidão me encontre
ponho-me a andar e correr por aí,
meio louco de felicidade.

José Lima Dias Júnior – 05.09.2014

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Através da composição

Imagem: Wieteke de kogel, fotógrafo holandês.


Eu seu entender desenhei esboços à luz do dia
quando a densidade da atmosfera
apagou os pormenores e reforçou os contornos gerais dos objetos,
[mesmo que as linhas determinantes fossem contínuas no espaço]
já que os retângulos isoladamente, sem quaisquer outras formas,
tornaram-se nítidos através da composição.

José Lima Dias Júnior – 04.09.2014


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Essa realidade...

Imagem: Erol Ayyildiz, fotógrafo turco.


No fundo da minha esperança
um rio escorre por entre os dedos,
cuja polifonia pictórica 
obtida do equilíbrio entre vários movimentos 
me conduz aos singelos regatos de mil braços.

Para alcançar um meio mais puro
de exprimir essa realidade
não posso acreditar que a imaginação
conduzida pelos estímulos instintivos
nos arremessa e nos tortura
mais do que as habituais coisas terrenas.

As forças que criaram e criam o Mundo
deviam saber como lidar com o bem e o mal,
porém se perderam na rotina quotidiana
quando aguardavam o fim do dia.

José Lima Dias Júnior – 03.09.2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Exaurido

Imagem: Amir Bajrich, fotógrafo bósnio.


Uma infinidade de mundos novos produz
homens já exaustos, debilitados e endurecidos,
cujas lembranças vivas não brotam da vontade criadora
e nem do cio das cores que expulsa do útero das manhãs
o orvalho em flor.

José Lima Dias Júnior – 02.09.2014


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Ais de solidão

Imagem: Heru Agustiana, fotógrafo indonésio.


Olho muitas vezes para trás e vejo
o passado surgir aos meus olhos
na sua forma acabada, sempre, a vigiar
e a guiar a força que age dentro de mim.

Aprendi a compreender que a saudade
por pequena que seja não fica esquecida
quando conseguimos pintar de cor os quadros
com profundos ais de solidão.

José Lima Dias Júnior — 01.09.2014

Imagem: Jure Kravanja, fotógrafo esloveno.


Há uma impressão
de amargor & acidez
no silêncio das calçadas
quando as cores 
que parecem ásperas 
ferem o olhar.

José Lima Dias Júnior – 01.09.2014