sexta-feira, 30 de março de 2012

O tangerino de sonhos...



O social é que nos orienta e regula a nossa conduta, estabelecendo normas e valores para as coisas. É verdade que vivemos uma época trágica, onde é visível a angústia infinita das almas livres. Mas, toda essa gente resiste a todas as chuvas e ao vento da vida diária...

Algo me faz pensar, que estamos submersos na terrível velhice (deste último século), que os anos imprime. Talvez, a humanidade esteja a espera de Prometeu, que desejou salvarmos da miséria dos homens.

A revelação dos dias nos mostra que na luminosidade das manhãs ou na opulência natural das noites, os homens terminam anulados pelo cotidiano. Onde, gotas de luzes e cores oferecem à alma um gozo desmensurado.

Por entre  ruas escuras caí o amor dos homens em fontes profundas. Eis, alí, o afã que cavalga o presente futuro. Corações endurecidos, sórdidos e velhos invadem os jardins, onde o vento das alturas desprendem açoites que condicionam em nós o abrasamento das fogueiras vivas.

Que brota da alma, um corpo febril, símbolo e expressão de si mesmo. Que desterra de cânticos sagrados, o bem e o mal. E, arrebanha da obscuridade da sombra noturna a natureza humana.

Criaturas que se entregam a loucura dos sacerdotes. Falsos sábios, que divulgam uma pseudo-sabedoria, que glorifica o eu e santifica a alienação. Assim, vejo, os homens submissos aos pés divinos, receberem na face o cuspe do bendito egoísmo.

A manhã que está oculta, a tarde que se descobre. Assim, nos arrastamos sobre duros ombros e somos tolhidos pela mormente cotidianidade. Uns ajoelham-se e deixam-se carregar pelas falsas promessas. Outros, resistem as palavras e aos valores estranhos.

O interior da luz é vicioso, cheio de nobres adornos, de bela aparência. Alma minha que se lança no olhar dos teus olhos. Que chora as lágrimas e os prantos alheios.

Com um facho de claridade caminho pelo passado, onde jogo dados com os deuses, na mesa divina da terra. É, esse o meu universo! No domínio dessa órbita persigo o tempo, onde não deixo escapar uma verdade fugidia. Porém, degusto, como do puro alimento da vossa ciência. Mas, dificilmente, "estenden-se em mim, tua negra ignorância".


Não quero ser hóspede de teu corpo, o que me atrai é a tua doutrina, que explica à própria a gênese da vida. A dor tem que morrer, pois a vida é um espetáculo, embora nos conduza às angústias cotidianas.

Atrás das formas e cores variadas, sou visto como um pensamento inefável, oculto e espantoso. Um cego que pede e dar esmola, mas que não enche sua sacola. Contemplo a escuridão e me curvo diante de um deus desconhecido, incógnito.


Setes olhos trespassam e perseguem-me. Arranca(m) torturas, me impõe suplícios. Funesto e encantador é teu riso colérico, que anuncia em pensamentos falsas verdades. Desse modo, escuto uma voz que diz:
— Quem és tu?
Exclamou, o velho sábio, dizendo tristemente:
— Eu sou um deus verdugo cansado dos tormentos humanos.
Desviando o olhar para o céu, procuro a grandeza do brilho da luz. Os olhos marejam, procurando por entre os bosques lunares à singular humanidade. Ao longe, vejo, os homens como "insetos cegos voando sem direção".
Agora, o subúrbio é um mundo estranho, que já não existe para o centro — urbano e capitalizado — de sonhos e prazeres. Do lado de cá, toda àquela gente louva com cantos, odes e poemas um deus diminuto.


À pobreza do alto e baixo sertão está regada pela fome, miséria e analfabetismo. Que oportunidade terão àqueles de seguirem seus destinos? Triste verdade não proporciona o disfarce de tal situação. As esmolas que recebem são acondicionadas em pacotes distintos. De distantes paragens, desvalidas criaturas esbarram na contra-mão da vida retirada.


Por aí, além, morrem-se da seca, da morte matada... Dotara a natureza a sombra de um velho juazeiro, que naturalmente remove o óbice da secura dos ares.


Com lágrimas nos olhos o sertanejo aprecia espantado o velho torrão. Fugindo dos raios do sol, caminha lentamente por sobre a aridez da terra inóspita. Os olhos brilham diante da profunda solidão. A pele luzidia contrasta com o suor-ácido que escorre pelo rosto, evidenciando as marcas que a vida imprime. Mesmo turvas, clama aos céus pelas águas da chuva.


Por entre o arrebol, rompe a luz, um vulto humano que salta em órbitas, cujos olhos adornados pelos espaços vazios em estilhaços, em meio a patéticos anos, condiciona em negras cores a dureza e o peso da vida diária.


Figura humana que responde em silêncio. Como a morte, colhe o ímpeto que nos obriga a mergulhar na extrema solidão dessa dor profunda, desfigurando a luz da manhã e a fisionomia de todo homem, descrevendo em diferentes fases o desespero de criaturas inanimadas, cujas as mãos piedosas arrastam-se em busca de Deus.

Depois de longo e profundo silêncio, o velho sucumbiu... Velho Chicó, voz altaneira das terras longinquas, morrera suspenso na cruz por não suportar seu inferno e o amor pelos homens. De expressão dolorosa e sombria, aquele pobre homem de aparente palidez anunciava uma excessiva piedade...,  estava cansado do mundo dos homens.



Por Lima Júnior...
Dedicado a memória do primo-irmão Irapuã Batista de Sousa, tangerino de sonhos...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Olhos pueris



Dos olhos saltavam as lágrimas,
do lábio diltado um sorriso mórbido.
Pupilas negras,
de natureza tímida e audaz,
cujo o ímpeto da alma
me enche de arrojos admiráveis.


Por José Lima Dias Júnior...

As aparências



As aparências superficiais
fabricadas por nós
é um exercício religioso
tão contemplativo e imaterial,
que torna-se um instrumento
de discórdia e divisão.

Contudo, as palavras
representam em nós
uma sólida interpretação
da produção, do conhecimento,
digerida e destilada pela razão.

Mas, as vãs circunstâncias
que a natureza humana nos oferece,
nos iludem a julgar pelas aparências
e não descobrir o que se passa pelos sentidos.

 Por José Lima Dias Júnior...

Opus 7



Decrépitas palavras
que tornam insípido o pensamento.
Que derrama de tua boca vocâbulos acerbos.

Pende dos teus lábios,
doce súplicas,
que artificializam a imagem das figuras débeis.
Cuja a beleza murchou de velhice a luz da manhã.


Por José Lima Dias Júnior...

Canto fúnebre



Opulenta morada
que ofusca a noite ao sair.
Insanável dor,
que me consome,
que exala em mim um canto fúnebre.


 Por José Lima Dias Júnior...

Ávido



Eu guardo n'alma
uma amizade nossa,
onde as gerações futuras
do alto acenam e celebram
as divinas cantilenas,
que inspiram nos homens
uma nova canção.

Uma poesia-assunto,
que amarga e entristesse
às divindidades diminutas.


 Por José Lima Dias Júnior...

Ângulo obtuso



Aqui, de onde estou
vejo com olhos lassos,
os cansaços, os becos lamacentos,
o ventre-útero
que pariu minha mocidade.

Vejo o silêncio da noite,
o lamento de tantos ais,
o verso, o reverso do verso, sem nexo.

Eu vejo,
as vibrações sonoras,
os cânticos das ruas,
o incêndio das auroras,
a devassa dos homens,
o clamor das carolas.

Eu vejo,
a loucura,
o devaneio dos poetas,
o êxtase, as manhãs...
Tudo isso, eu vejo
pelo ângulo obtuso das retinas
presas a janela de uma cela.


  Por José Lima Dias Júnior...

Uma alma arrefecida e embotada pela idade...



Estende este paralelo
a um espaço vazio,
onde as almas singulares
sobrepuja a natureza humana.

Mostra a manifestação proeminente
que oculta nossos desejos.
Essa usurpação de autoridade,
que na obscuridade da noite,
afoga-se na juvenilidade
das depredações da velhice.


 Por José Lima Dias Júnior...

Solitário...



A minha dor
não valerá
um sorriso
na tela do espaço.

Entro por fim
nesta velha solidão,
do teu universo cálido.
É preciso renascer
pra aprender recordar...

 Por José Lima Dias Júnior...

Capítulo trágico



Deslizava pelo vácuo
uma infelicidade sem fim.

Os germes caindo n'alma.
por entre as gotas do pranto,
sucediam fontes de novas dores.


 Por José Lima Dias Júnior...

Afeição



Uma palavra,
um aceno,
não é o  bastante.

Ao homem, o gozo
é que glorifica
e nutre os desejos vis.
O amor não se pode
pôr à venda,
assim como um corpo
não pode ficar privado de afeições subjetivas.

Não se ama um corpo
sem alma e sem sentido,
ama-se um corpo,
mediante seu consentimento e desejo,
que se estende a afeição conjugal.

 Por José Lima Dias Júnior...

Sólida mistura



Tão volúvel é a gramática
que se liga ao discurso paradoxo,
que tua alma produz os mais loucos devaneios.

Escapa em mim,
uma imagem vã
que interrompe e emudece o silêncio.

O escárnio ten-se alojado em nossas ações,
auferindo uma sólida mistura
de vaidade e quimera febril.
Não conservamos em nós
a decência de nossas vergonhas.
Mas, as coisas sagradas
lhes é infinitamente temível.


 Por José Lima Dias Júnior...

Males da alma



A intolerância e o preconceito
são indícios da maldade das almas,
nascidas das nossas imperfeições.

O gozo carnal é um sofrer pecaminoso, dizem!
Os males que os homens mais temem
são os que os desnudam.

Os apepites jovial e urbano,
já não são tão prazenteiros.
Eis o avesso das convenções amorosas
aduzidas pelos inconvenientes
que a natureza humana nos oferece.


 Por José Lima Dias Júnior...

A noite



Fujo da sombra,
e não me ponho a obedecê-la,
que outrora me transpassava
nos sonhos o hábito do mal.

A casa entorpecida
pelo silêncio da noite
me adormece, me atordoa.
Ela abandona meu corpo,
reclino na placidez do sono.

 Por José Lima Dias Júnior...

Pavor-pânico



O vício, a  morte,
a pobreza e as moléstias
são pensamentos sólidos
que causa no homem o pavor-pânico.

Fugindo do medo,
desvia-se desse céu
tempestuoso e nebuloso.
Se a vejo não sinto,
vejo escapar-se
do meu eu e das minhas veias
as recordações das juventudes passadas.

Na velhice,
já não sinto
os dias pesados e sombrios.
Hoje, são belos e serenos os dias...
sem se esquivar, arrancarei em breve um riso teu.

 Por José Lima Dias Júnior...

Óbice



Algo impetuoso e inesperado
lança sobre os olhos a malignidade,
que nossas próprias mão executam,
a pura inocência,
sem objetar a palavra e o pensamento.



 Por José Lima Dias Júnior...

Homo sapiens sapiens



Eu descrevo o homem
como resultado da multiplicidade
de formas abjetas,
que se extravia e diversifica num universo mutável.

Pensamento indecisos passa agitado
por uma embriaguez natural.

Como gramático ou poeta, sem brilho e sem forma
caminha para a condição humana.
É através da razão que irá se exibir para o mundo,
mesmo que esta seja forjada pela opinião dos homens.


 Por José Lima Dias Júnior...

Expressões poéticas



Como na Odisséia homérica,
mergulho na narrativa épica,
que oculto por trás do véu da clausura
me entrego as invenções alegóricas.

Eis que me afundo no produto de sua imagem,
na dimensão da linguagem poética
e da clareza de suas analogias.

Essa natureza,
irrompe as justaposições sevícias,
que abre um espaço absoluto de imagens inacabas,
que passa por entre as retinas de signos configuarados.


 Por José Lima Dias Júnior...

terça-feira, 13 de março de 2012

Aparência



Às avessas reconhecemos
em nós mesmo
as imperfeições e defeitos.
Já não tenho o desejo
de ser outro,
a realidade é abstrusa e oculta.

Porquanto, julgamos decerto
que as súplicas,
que dirigimos a Deus
sejam por nossa fraqueza mental.

Já não tenho o vigor da mocidade,
os excessos que pratiquei,
me tira a força para resistir a velhice.

Eu professosenão,
a voluptuosidade da mocidade,
os vícios consubstanciais e internos dos homens.
Apraz-me viver
desinteressado pela opiniões alheias,
pois podem me desviar do uso da razão.

A idade me traz
um arrependimento acidental,
onde apodera-se em nós
o apetite pela velhice,
cujo os vícios mundanos e a fraqueza
imprimem o desgosto que os anos me trazem.


 Por José Lima Dias Júnior...

Panacéia

Todo homem difere de si mesmo,
porquanto, a fixidez
das leis presume um estado sintético.
Numerosas crenças
transfere aos sistemas de opiniões correspondentes
um tempo universal.
O objeto preliminar da razão humana,
resulta em uma explicação do mundo e do homem
como esclarecimento da condição humana.

O verso dogmático,
consiste na profunda insuficiência
das disposições morais
que enceta no homem um espírito filosófico.

A imortalidade da alma
constitui a vida,
o germe espontâneo,
dos antigos poetas.
Entre os sentimentos
e os atos decompõe-se a fé,
que desvia da criatura o afeto ao Criador.

O gênio poético libertado da mixórdia acadêmica
não faz da arte um culto privado.
Socializa celebrações coletivas,
cujas hipóteses quiméricas
transforman-se em orações cotidianas.

É inexequível a alma
uma infância eterna,
onde as severidades análogas
limitarão o domínio espiritual.

O amor é um culto íntimo
que regula o casamento.
Institui uma adoração assídua ao outrem.
Esse sacramento coexiste
na aprendizagem prática
de nossas impressões objetivas,
que proporcionam
uma eterna juventude de nossas afeições.

Conservai, ao ente adorado,
não as nossas perdas prematuras,
mas as nossas recordações pueris.
Limito-me as noções convenientes
que se condessem em fetichismo.
Não exijo nenhuma explicação
acerca da natureza feminina.
Resulta, que os laços subjetivos
de nossas impressões objetivas
coincide essencialmente
com nossos esforços intelectuais.


 Por José Lima Dias Júnior...

O exercício das almas

Elas sucumbem
todos os segredos de nossas vidas,
teus vícios são avessos
a qualquer azedume e aspereza,
não para serem odiadas,
mas para serem amadas.

No trato dos homens,
é necessário catá-los à peneira.
Sua beleza se esconde
por baixo dos risos,
onde a luz ofusca
a própria claridade.

O prazer de gozar
não se recomenda pela idade,
ou pelo sorriso.
Essa negociação
sem paixão,
sem amor, sem sujeição
da vontade,
favorece a impostura,
que amiúde
acontece não por ser  muito amável,
mas que satisfaça
o gozo da alma; do homem...


 Por José Lima Dias Júnior...

Ao amigo soberbo...

É natural a estutice do soberbo,
ele transmite
por meio dessa altivez
um falso dom instrutivo.

Sem entendimento,
esmorece na velhice
e lava suas lágrimas
nas águas da melancolia.
transformando-se num homem
acrabunhado de mágoa,
num espírito de cólera.


 Por José Lima Dias Júnior...

A morte

Pensamento alhures,
de mãos criminosas
tumultua de cólera
o sentimento penoso,
que anuncia a morte do filho.

Eu ti ouvirei,
mesmo que distante
mesmo sem nome, ti sentirei.

Quanto aos deuses,
consola-me
com a eternidade.
Mas, a vida
vai a cada passo
ladeando e esquivando-se da morte...


 Por José Lima Dias Júnior...

Excêntrico

Teu pensamento
acerbo não alivia,
dissolve e dissipa minhas forças.

Fungindo-o me desvio
de tal pensamento,
onde suas ideias
são como cascas vazias,
que desprendem-se
de imgens cálidas.

Um lamento
de palavras e vozes
exaspera a dor
que me consome...


 Por José Lima Dias Júnior...

Lenitivo

Para me desviar
as pungências da dor
recorro aos livros,
pois me desvia
das comodidades reais,
vivas e naturais
que a realidade
imprime em nós
o lamento dos homens.



 Por José Lima Dias Júnior...

A velhice



A minha idade
está envelhecendo,
enfraquecida ao longo do tempo.

Não a julgo mais valorosa,
pois a impotência física
me causa a debilidade do corpo.

Os braços alquebrados e mortificados,
já não estende as mãos para adiante.
Não vejo no olhar uma nova claridade,
tivera eu, agora, o gozo da saúde.

A força que tivera outrora
não se faz presente.
Já sinto a alma sujeita
a enfermidade e imperfeições.
A velhice é a metamorfose
que adquirimos ao nascer.


 Por José Lima Dias Júnior...

Teu olhar...

 Para Mariana, minha filha, decido.


Eu guardei no teu olhar,
um sonho azul.

Com a esperança
que a luz desse brilho
traga-te a fé no futuro.

Que a palidez no vosso rosto,
não seja a marca de um tempo perdido.


 Por José Lima Dias Júnior...

Serranias

Esplêndidas chapadas
que de tuas encostas
escorrem sulcos decaídos.

Sobre um plano vertical
de placas xistosas,
vejo o horizonte além.

De planuras altas,
vejo no fundo dos vales
um terreno de drenagem permeável e móvel.
Pelos "visos das escarpas, oblíquas,
campeia a sociedade rude dos vaqueiros"...*

*(Euclides da Cunha, Os Sertões).



 Por José Lima Dias Júnior...

Belo Monte

Ser-tão
que leva
aos descaminhos,
Sertão
que me leva a um caminho,
cujo domínio da catarse
enche o campo de imagens débeis.

Que me põe lado a lado
a campear pela caatinga.
Como a essência anímica,
fugindo da morte,
a revelia da vida...

Pelas imagens no campo
vejo um anfiteatro,
onde uma epopéia
é o cenário
de uma batalha dramática.

Que emoldurando
a trágica planície,
embotadas pela extrema aridez,
escorre pelas escarpas inteiriças
o sangue do sertanejo
que por entre os sulcos da terra inóspita
entalha a natureza humana.


 Por José Lima Dias Júnior...

Ação demolidora

Mandacarus tristes e toscos,
desnudos e contorcidos
pela aridez e secura dos anos,
pela degradação, pela ação dos homens.

A fauna e a flora
denunciam o martírio da terra,
brutalmente golpeada,
pela violência máxima dos agentes externos.



 Por José Lima Dias Júnior...

O traço de um outro rio...

O curso flexuoso
da minha direção primitiva
corre por entre paralelos,
que descamba para um outro trecho,
imagens desbotadas
que deságua para o mar
impressões cotidianas.



 Por José Lima Dias Júnior...

Sertão

Verões escaldantes,
invernos torrenciais.
Essa é a dinâmica da natureza.

Ambas, as estações, ligam-se
e completam-se mutuamente,
modificando os aspectos naturais.



 Por José Lima Dias Júnior...

Sertão inóspito

Na aridez
geral do sertão,
vejo paragens,
terras ignotas,
onde na moldura
desse cenário,
enchergo um horizonte monótono
de imagens tristonhas e distorcidas,
onde o colorido das cores
fora ofuscado pelo pardo das caatingas,
a aparência de aspecto lúgubre.


 Por José Lima Dias Júnior...

Insólito

Natureza silenciosa
que armazena os ardores dos anos vividos,
cuja atmosfera asfixiante acende no peito
uma centelha, que expande ao poente
um crepúsculo de rubra-tez,
cujo calor se perde no espaço
dos abraços matinais,
que pairam ao entardecer.



 Por José Lima Dias Júnior...

Um arbusto cansado...

Pequenos arbustos
que enfeita
um velho jardim em abandono.

Multiplas formas,
que em braços
largamente abertos
recebe o lume do sol poente.

Calidas faces
volvidas(s) para os céus,
conservam traços fisionômicos
de um tronco tosco
e galhos abatidos
pela secura externa dos ares.



 Por José Lima Dias Júnior...

Agitação dos ares

No desequilíbrio
singular das forças,
o vento se atira
a rebojos largos.

Que sucede em nós
paroxismos,
agravando nossas angústias.

Os ventos, que ali, chegam
turbilhonando revoltos,
são "ares imóveis sob a placidez luminosa
dos dias causticantes".*

*(Euclides da Cunha).


 Por José Lima Dias Júnior...

Novos tons nas paisagens

Vales ferteis,
cuja as planícies áridas
se delineiam em linhas esparsas.

Que num ritmo funesto,
segue as diferenciações étnicas,
profundamente irrigadas
pelas súbitas inundações
que a vida nos ocasiona.


 Por José Lima Dias Júnior...

Hiroshima-Nagazaki

Lugares ásperos e ardentes,
de areias queimosas.
Onde criaturas humanas,
feridas pelos sóis atômicos,
exalam a dor, a morte...

Às reações vigorosas dos átomos, da luz,
sucedem-se minutos e horas ardentes.

Como num incêndio
o espontaneamento aceso
pela mão do homem,
desfaz a dureza dos elementos,
desnudando corpos juvenis.
As bombas letais,
ofuscam as flores rutilantes
imprimendo "a tristeza solene das paisagens."



 Por José Lima Dias Júnior...

Uniformes quadrantes

Vagas conjecturas
de impressões isoladas,
pensamentos que divergem
criando amplitudes insignificantes.
Vocábulos correndo veloz
por entre orações
contribui para a indiferença
proverbial de palavras desnudas,
que reflete aos substantivos um reverberar ofuscante.



 Por José Lima Dias Júnior...

Contornos agitados

Confusão pasmosa,
que imita o regime brutal
dos cenários opulentos.
Onde a natureza retalhada,
progride, descontínua,
numa curva elíptica que descai
por entre serras  e tabuleiros
torrentes efêmeras que se fundem
em propagação longínqua.



 Por José Lima Dias Júnior...

Bela flor

Olhos virgens
que de ternura
minha'lma enche.
Tão puros, tão belos...

A aurora do oriente
se vai sonífera e preguiçosa.
A chuva cai e acorda,
o olhar timido das flores.
Agitam-se as folhas,
que invadem a estação chuvosa.
És tu, rosa, a  mais bela flor.


 Por José Lima Dias Júnior...

Ultrajante

Eu tenho acolhido o pecado,
decerto, não entendo as minhas ações.
Mas, me sinto devotado
pela tua natureza e a tua arte.

Não seremos nós o domícilio desse pecado,
onde as paixões nos arrebata e carrega
o hábito das nossas fantasias
aos encantos da flor da manhã.

São os lampejos de nossas ações
que nos leva a um fundo lodoso e denso.
Nos julgamos por conclusões aparentes,
como imagens que assombram demônios,
que dominam as almas viciosas
quando se aproximam do repouso espiritual.


 Por José Lima Dias Júnior...

Ausente

Quando não estou em mim mesmo,
ando sempre (por) perto de você.

Descubro no liame natura
o feitio comum dos homens:
o comércio de mulheres.
Um parente meu, que vi camponês,
nascera mendigo
não conseguira ofício na sua mocidade,
ele "ceifava e vindimava terras alheias."

Um homem tinha
o dia e a noite
sobre os ombros.
Agora, na velhice,
ele se reconcilia com Deus
e foge do vento impetuoso
que cega nossa alma...



 Por José Lima Dias Júnior...

Che

O olhar sereno e analítico,
demolia palavras afiadas.
A aparência enigmática,
revela os distúrbios sangrentos das ruas.
A situação tensa e delicada prosseguia.
Com suas rubras asas
e acenando um lenço branco,
eis que surge o vento e seca as lágrimas...

O espírito tomará nossas vidas,
seres inanimados não sabem
que pelas suas ações
a sociedade está desmoronando.

Vejo gravado na noite,
a imagem do povo dilatada pelas armas.
Por sobre as barricadas do inimigo
a civilização caminhará triunfante para a luta...
Nasce a revolução.



 Por José Lima Dias Júnior...

Pensativo

O que vejo são imagens
distorcidas pelo tempo,
rostos sulcados de rugas profundas;
de sofrimentos indiziveis.

Sobrebastava os descaminhos que me assombra
um excesso refinado
conserva a saúde do espírito.
A deserção da alma desaparece
na calosidade do corpo.

Aos homens cabe revelar-nos
os mecanismos divinos.
No espaço claro do céu,
por entre nuvens,
vejo os meninos
ao redor do mundo.



 Por José Lima Dias Júnior...

Prélio

Recorrem-se às armas,
os homens desviaram-se da própria consciência,
o que os tornam malditos e execráveis.

A guerra, ao contrário, nos mergulha
num oceano de sangue,
que salpica e suja aos que dela se aproximam.


 Por José Lima Dias Júnior...

Religião

Eu professo aquilo que não há regra,
que mantêm uma aparência de liberdade.
Eis o lenitivo da criatura aflita,
que trafega por entre caminhos tortuosos e diversos.
Ela conduz o espírito a compreender mal este mundo.

Subordinada à necessidade de uma classe,
serve aos escravizados pela fé
uma ação desigual e fortuita.

 Em nome de uma verdade universal "muitas ações viciosas se praticam"... (Montaigne).


 Por José Lima Dias Júnior...

A acridez dos homens

Detestável perfídia,
cujo veneno escorre da boca
e habita dentro de nós
a voluptuosidade maligna,
que consome nossas vidas.

Formas abjetas produzem
a cólera e o ódio.
que irrompe as paixões,
cambaleante de tantas mutações.

Por água turvas
a acrimônia e a aspereza
impedem que os homens
tenham uma conduta de afeições móveis.
O meu silêncio,
guardo para que o conhecimento ultrapasse
e me faça escravo da razaão.
Incontinente, eu lhe estenderia a mão,
mesmo que as vias não fossem contrárias
e as coisas indiferentes...

 José Lima Dias Júnior