sábado, 30 de agosto de 2014

À luz do dia

Imagem: Martin Stranka, fotógrafo checo.


Apetece-me acariciar
o azul-ultramar-escuro
e grudar com goma-laca
os tons quentes e frios
das manhãs tênues,
onde a harmonia das cores
enleva a alma humana.

José Lima Dias Júnior – 30.08.2014

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Caminhos que se atravessam

Imagem: Ivan Marlianto, fotógrafo indonésio.


Atravessei à ida quando regressei
as ruínas de um tempo ímpio
que tanto me seduzem.

As madrugas carregadas de flores
continuam a florir doces manhãs,
cuja claridade não nos ameaça.

Nunca me sinto triste ou indiferente
quando o tempo insípido exala
um delírio úmido e põe-me a alma sonhar
quando a amarga indiferença incendeia
os espíritos ignominiosos.

José Lima Dias Júnior – 29.08.2014

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Quando vi a desolação dos seres humanos

Imagem: Piet Flour, fotógrafo belga.


Procurando alcançar
o âmago da existência
viste a morte com total indiferença
que trataste com frieza a dor alheia.

Dois homens hirtos e rudes
desciam um destino íngreme
e eu olhando de costa para eles
via os passos débeis das criaturas
[de uma palidez quase encanecida]
respirar o ar solene e submisso dos
seus algozes.

José Lima Dias Júnior – 25.08.2014

domingo, 24 de agosto de 2014

Singularidade

Imagem: Özden Sevim, fotógrafo turco.


Abrir-se-ia um vazio em minha alma quando vi
suas esperanças penduradas na parede
procurando na excentricidade das cores
a tonalidade dos seus significados,
para além da distância
e do número de seres débeis,
revelar uma visão bastante modesta
e restrita das suas intenções e realizações.

José Lima Dias Júnior – 24.08.2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Vivendo a alegria de imaginar

Imagem: Jay Satriani, fotógrafo indonésio.


Quando o fogo úmido
colore a densidade onírica
faz despertar o espírito inepto
que ultrapassando 
os julgamentos efêmeros e fugazes 
se revela em algo além da nossa realidade,
cujo tempo humano desmorona
diante da luz que nasce e que morre
sem que os instantes se ponham a velar.

José Lima Dias Júnior – 21.08.2014

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Prelúdio

Imagem: Jay Satriani, fotógrafo indonésio.


O que há de diminuto
quando branda a alvorada
e o Sol despontando no horizonte,
com sua luminescência,
sai anunciando a vinda do poente.
A sombra inconsciente evoca
o claro-escuro para ajudá-lo naquela hora.
Não há forma, ordem, cor ou claridade
quando a sombra não se lança a luz.
Mesmo que a luminosidade seja difusa
é imprescindível se arriscar
diante da obscuridade que nos rodeia.
Em vigília a sombra espera pacientemente
pela claridade que acaba de acordar. 

José Lima Dias Júnior – 21.08.2014

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Quando me ponho a pensar

Imagem: Gilbert Claes, fotógrafo belga.


Se pudesse de qualquer modo
ver em mim 
todos os traços que trago n’alma
seria possível estimular a matéria inerte
transformando-a em ser vivo.
Tarde ou cedo, o tempo há de vir,
mesmo que o futuro cansado
abandone seus planos.

José Lima Dias Júnior – 20.08.2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Entre nós

Imagem: Jay Satriani, fotógrafo indonésio.


Cristalizei o silêncio 
pra sentir, em si mesmo, 
sua loucura que ultrapassa 
os limites ilusórios do espírito humano.
Entre nós parece não existir
uma fronteira nítida
mas um desejo que nos conduz ao delírio.

José Lima Dias Júnior – 17.08.2014

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sentimento vívido

Imagem: Mea, fotógrafo búlgaro.


A solidão do ser humano
num universo hostil
é uma espécie de grito,
próprio de uma vida
intensamente vivida.
É impossível pintar o sorriso
quando a vida não ganha intensidade,
mesmo que os instantes estejam
empolados, retorcidos, deformados,
[onde as carnes rasgam-se e sangram]
mesmo que a força esteja sempre presente e as mesas
cobertas de pratos sujos e de restos de refeições adormecidas
parecem reconstituir o tempo que passou.

José Lima Dias Júnior – 14.08.2014

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mística luminescência

Imagem: Lou Urlings, fotógrafo holandês.


A claridade, recortada, rasga um céu luminoso
deixando por entre rastos monocromáticos
a luz que desponta de outra luz, de tal modo somos
envolvidos pela mística luminescência do mundo exterior
que continua a existir com seus clarões imaginários, oníricos,
carregados de um drama latente.

José Lima Dias Júnior – 13.08.2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Acrônico

Imagem: Gilbert Claes, fotógrafo belga.


A existência muitas vezes atada em feixes
ou desenhada com a delicadeza oriental
confere um movimento notável,
levando em seguida uma vida nômade e dramática,
mesmo que o acaso delineie os coágulos de sangue
e as chagas acrônicas que há em nosso tempo.

José Lima Dias Júnior – 12.08.2014

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Abstracionismo lírico

Imagem: Harry Kramer, fotógrafo alemão.


As formas, a luz e o espaço
não se pretendem abstratos
quando a transposição poética,
um pouco inquietante, descreve
a existência corroída pelo tempo.

José Lima Dias Júnior – 11.08.2013

domingo, 10 de agosto de 2014

Expressionismo abstrato

Imagem: Ali Noohi, fotógrafo iraniano.


Transpor o espaço decorrido que separa o céu e a terra
é como encontrar a cor pura que surge como campo e luz,
[com que reveste o emaranhado labiríntico que criamos]
mesmo que os eventos dramáticos durem
o tempo da sua apresentação.

José Lima Dias Júnior – 10.08.2014


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Manhã de domingo

Imagem: Maithé Guillaume, fotógrafo belga.


As formas ambíguas,
aparentemente abstratas,
lançam suas sombras quando
reencontramos em nossos devaneios
um mundo sem fim, tantas vezes sobrevoado
por um cálido instante, com vistas a conferir
nas casas abandonadas e nas ruas solitárias
uma voz que almeja estrelas e sóis.

José Lima Dias Júnior – 08.08.2014

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Um olhar que exprimia tristeza

Imagem: Balqees Beloshi, fotógrado omanense.


A vida reaparecendo
se une com as cores da infância,
mesmo que se manifeste simultaneamente
a angústia do tempo.


José Lima Dias Júnior – 06.08.2014

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Além de ti, além de nós...

Imagem: Aziz Abbasi, fotógrafo iraniano.


Utilizei linhas retas
para preencher os retângulos
que se intersectam em ângulos retos,
a fim de obter aproximações insólitas,
onde a multiplicidade das cores encerra
a descoberta do abstrato, já que tudo é permitido,
mesmo que cada elemento geométrico e cada cor
tenham um significado sempre evocando o universo humano.

José Lima Dias Júnior – 05.08.2014

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O único desejo

Imagem: Leszek Paradowski, fotógrafo polonês.


A morte, tão viva e eterna,
com seu caráter fúnebre
vai colorindo quadros sombrios
sem um significado legível.

A vida cada vez mais radiante
se afasta do infortúnio que você gerou,
mesmo que as horas senis pretendam
tão-só afirmar que não há limite
à sua possibilidade de transformar seja o que for.

José Lima Dias Júnior – 04.08.2014

domingo, 3 de agosto de 2014

Tons sombrios

Imagem: Luis Sarmento, fotógrafo português.


Minha loucura passa
por tantas metamorfoses
que me sinto incapaz de a definir.

Deveria ser qualquer coisa
menos o riso travesso das naturezas-mortas,
que perpassando um vento agreste
sujeita nomeadamente as açucenas, em flor,
a violentas deformações
mesmo que o tempo tente esconder as cicatrizes.

José Lima Dias Júnior – 03.08.2014


sábado, 2 de agosto de 2014

Conceptual

Imagem: Katerina Lomonosov, fotógrafa israelense.


De uma existência miserável
e consumida pela melancolia mórbida
brota céus incandescentes onde à abstração
parece cortada ao meio por um raio de Sol
já que o traçado sinuoso das linhas assimétricas
evoca um figurativismo lírico, embora as cores telúricas
atinja um espaço sem perspectiva.


José Lima Dias Júnior – 02.08. 2014

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O tempo em silêncio

Imagem: Sol Marrades, fotógrafa espanhola.


À tarde recortada sangra
[até ao limite das suas possibilidades formais]
sobre um fundo de cor homogênea e viva
onde as horas atormentadas por certo ardor
irradiam a sua fé, em traços rápidos e violentos,
cada vez que a palavra ganha tonalidades irisadas,
sugerindo sempre um certo isolamento e solidão.

José Lima Dias Júnior – 01.08.2014