sábado, 30 de novembro de 2013

Reduzidos ao silêncio


Envolvidos em seus sudários,
os homens reconhecem que
foram infelizes em vida.
acordaram de um sono que
nunca existiu.
Os lamentos e as lágrimas
encheram a bacia vazia antes
ocupada pela perda sofrida.
Quantos vivem em constante
angústia de ver a ferida sangrar.
Precisamos acalmar a cólera dos
deuses para que não tenhamos o
exílio ou a servidão como castigos.
Já, não basta ter perdido as cores
do arco-íris e vê-lo morto e reduzido
a cinzas.

Ante o obstáculo encontrado, aprendi com vocês.


José Lima Dias Júnior — 29.11.2013

Condenando os culpados


Quando me isolo
meu espírito produz
muito mais do que
imaginava.

Um lenitivo pra curar
as nossas desgraças,
sem escapar o desejo
de viver mesmo que
meus dias sejam réplicas
de suas semanas.

Minha loucura é saber
que morremos a cada dia
quando erramos no cumprimento
de nossos deveres.

Assim, infligiram castigos aos infratores
engendrando o desespero ao punir
com a morte os desertores.

Arte: Tomasz Alen Kopera, pintor polonês.


José Lima Dias Júnior — 29.11.2013

Maluco de BR


A Yuri Hícaro, dedico. 
Encontrei pelas ruas um louco poeta
com palavras riscadas e substituídas
por frases desvalidas daquilo que não
pretendia ser.

Subexpressões escritas engolida pelas indigências
devoradoras não impedia que sua lira fosse tocada.

O dia cansado de esperar, abaixo das nuvens,
resolveu amanhecer.
A chuva que caia, aborrecida,
molhava você.

Para meu espanto, ele saiu dizendo:

— Eu vou cuidar do meu jardim psicodélico!


José Lima Dias Júnior — 29.11.2013

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pelo caminho...


Quando queimastes meus sonhos
refiz minhas esperanças com
areia e cinza que juntei no caminho.

Hoje, na velhice, não sigo sozinho,
já que tenho a solidão como companheira.

José Lima Dias Júnior —28.11. 2013






Nossa alma


Ó dor converte em júbilo
o pranto humano que de
tão triste chora o desengano.

Sob a abóbada celeste vi a claridade
mutilar suas forças nos conduzindo a
tal fim, onde nossas almas cortadas em pedaços
cobriam a armadura óssea daquele homem comum.

Ó senhora soberana seus ditames não impedem a
anárquica fantasia que a alma carrega sobre o corpo.
A ruína que nos ameaça são as indiferenças concebidas
às escondidas.

Antes que o sol queimasse vossa pele mandei afastar o braseiro.

Imagem: Tomasz Alen Kopera, pintor polonês.


José Lima Dias Júnior — 28.11.2013

Incômodos de insignificância


Vi a vida bem ali em frente
atribuir ao cotidiano um gosto ácido.
Da existência guardamos apenas
as escolhas e consequências
que nós mesmos fazemos.
Encarar a dor, a pobreza e a morte
com algo funesto não nos torna mais
humanos.
Perdemos, assim, nossas esperanças
suprimindo a fé que antes carregamos.


José Lima Dias Júnior — 28.11.2013

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Nossa distância...


Não podemos fazer do nosso querer
a nossa desgraça, muito menos a
nossa ruína.
Sob uma noite densa Nossas indiferenças
foram substituídas por um céu sereno.
Em meio ao silêncio do seu olhar havia tantas
palavras a revelar o teu desejo.


José Lima Dias Júnior —27.11.2013

Você


Ao dobrar o Cabo da Boa Esperança
minha tarde foi sublime ao te ver.
Daí valeu mais seu sorriso
do que meus sentimentos
arrastando-me ao seu encontro.


José Lima Dias Júnior — 27.11.2013

Lânguida face


O corpo, tão ardentemente desejado,
renuncia o espírito, levando-o à morte.

A alma demasiada abatida
e lânguida dos erros humanos
se despede do corpo que fenece.

Acima das minhas forças,
as palavras atuam sobre meu espírito
fazendo produzir minha existência.


José Lima Dias Júnior — 26.11.2013

A existência


A Mariana Lima, com esperança.

Ao longo do dia, por entre horas felizes e amargas,
há instantes perfeitos, verdadeiramente sublimes,
em que o coração chega a pedir silêncio para sentir
a sua excelência a Vida.


José Lima Dias Júnior — 26.11.2013

Em meio à solidão do cárcere


O silêncio em cada gesto
não encontrou saída
durante o suplício agônico.

O tempo com suas horas inquietantes
não sufocaram as palavras em cada canto,
onde a solidão — do cárcere — fria escorre a me ferir.

Ó Sol, livre e plural,
que nasce além do horizonte
para romper as sombrias nuvens
faça-me alcançar a liberdade.


José Lima Dias Júnior — 26.11.2013

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Expressão fúnebre

Pintura: A criança morta, Cândido Portinari (1903-1962).

Aquele homem
que encontrei
a minha frente
enterrava seus mortos
em cova rasa.

A esperança estava morta
como aqueles a quem
acabaram de sepultar.

Os vocábulos sobre a mesa
faz companhia a alma triste
reduzida ao silêncio.


José Lima Dias Júnior — 25.11.2013

Nas ruínas da estação


Nas ruínas da estação
cavei a minha sina
com enxada e pá.
Plantei meia dúzia de árvores
com grãos de areia que juntei
na esquina da solidão.

Suas raízes iam caladas
fazer sombras em minha alma
alimentada de poesia.
Flor de translúcida brancura,
crisântemos cálidos e as açucenas
dizem que a vida é feita de ilusão.

Em silenciosa oração
estendi no varal a esperança
para acolher todos os desvalidos,
cada um com seus desgostos,
que o procuravam.


José Lima Dias Júnior — 25.11.2013

Inocentes mortos

Foto: Escombros em Hiroshima.

Ao caminhar em direção da casa
vi os sonhos carbonizados, mas
a esperança com mãos trêmulas
corria murmurando os seus erros.

Um silêncio, amargamente, absoluto
se formara sobre os corpos calcinados,
já que o arrebol sangrando
como um corpo morto
anunciava a hecatombe.

Debaixo dos escombros seres silentes
entregues ao abandono do derradeiro
instante que haviam vivido.


José Lima Dias Júnior — 25.11.2013

domingo, 24 de novembro de 2013

Resguardando a própria liberdade

Imagem: Odysseas Oikonomou, pintor grego.

Percorri os anos que o tempo espalhou pelo chão,
já que distante da vida e próxima da morte vi as horas
agonizando pelo caminho tudo o que foi vivido.
Ouvi lamentos e gemidos suplicando piedade aos
algozes.
Insurgi do suor e do sal que sai dos vossos rostos
para molhar as noites e dias de suas vidas.
Quando meus filhos crescerem irão colher os frutos
que plantei no vergel, espero que sejam felizes.
E antes de seguir para onde devo morrer trago ervas
que acalma a alma.


José Lima Dias Júnior — 24.11.2013

A miséria sobre a cidade



Tantas injustiças e ilegalidades acontecem na cidade.
Não por medo da prisão ou da morte, mas em nome da
verdade me opus a qualquer ação ilícita sua.

Por mais poderoso que seja o (teu) governo, ele não pode
forçar-me a uma injustiça mesmo sabendo que a sombra
da vilania te persegue a tantos anos.

Não sofri qualquer má influência, abri com os livros aquilo
que necessitava. É que minha idade não permite acreditar
em contos de fadas.

Adotemos, sem perjúrio, uma nova imagem e não uma vergonha
para a província, quer seja para vós, para mim, para o povo catando
as migalhas com os dedos das mãos.

Foto: Favela de Mahim em Mumbai, Índia (Sebastião Salgado).

José Lima Dias Júnior — 24.11.2013

Decisão injusta


Eu o direi a ti sem embargo que não existem demônios,
o que existe são coisas humanas.
O destino me espera em qualquer esquina ou caminho,
sem pesar o risco da morte.
Mesmo que isso aconteça continuarei a viver, após a morte,
como sombra, no limbo escuro e frio que há no âmago da terra.
Ainda que tenha de morrer muitas vezes, jamais deixarei de filosofar
e sentir o perfume daquela flor.
Se me condenardes por ser como sou, não creio que os céus permitam isso,
passarei o resto da vida a recolher os mortos em abandono.

José Lima Dias Júnior — 24.11.2013

Nos braços da manhã


Vivi numa pobreza extrema, por estar ao serviço
de um deus-diminuto.
Hoje, com os braços na manhã quero corromper
a mocidade com versos empoeirados.
Sair vagueando e interrogando o espírito livre,
seja cidadão, seja forasteiro.
Ali me tornei odiado por não ser adivinho e profeta,
mas por causa da poesia.
E respondi que me convinha mais ser como sou; poeta.

Imagem: Antoine Blanchard é o pseudônimo do pintor francês , Marcel Masson (1910-1988).


José Lima Dias Júnior — 24.11.2013

Os dias finais de Sócrates


Eu cá me fazendo esquecer quem sou.
Assombra-me e atraiçoa os discursos
que deposita desconfiança em nomes
e verbos floridos.

Uma súplica premente de um homem-feito
 se ouve em sua defesa.
Em praça pública, os algozes clamam pela
sua morte.

Desorientado, gritava muito diante daquela injustiça
E que o mestre não matara ninguém.
Na ágora, a multidão, furiosa, clamava contra a tirania
que caia sobre ti.
Por misericórdia, um jovem educando rogava a Zeus
que diminuísse o sofrimento daquele homem indefeso.


José Lima Dias Júnior — 24.11.2013

Esperando


Ó noite devolve-me quem tanto amo
ligando e juntando nossas quimeras,
umas com as outras, com a sequência
do resto de nossas vidas.


José Lima Dias Júnior — 23.11.2013

Prece


Eu sei que existe fora de mim
um lamaçal de dores testemunhando
um mundo de incertezas.

Movida por outra parte um pouco distanciada
da outra parte poderíamos fazê-la compreender
que rezar ao pé da cruz é sentir a si mesmo.

Os sonhos amputados esperam a hora do silêncio
Quase sempre me servindo de abrigo quando eu
estou acordado.


José Lima Dias Júnior — 23.11.2013

sábado, 23 de novembro de 2013

Nossa dialética


Sua lógica subverte
e coloca em perspectiva
o mundo que criei para nós dois.

Você se confunde com meu mundo
 real, imaginário e planetário.
Sem a tal felicidade como iremos pintar
as estrelas para o céu que desejamos.

Vamos estabelecer equivalência entre algo existente
sem se preocupar com as consequências
de um caso irreal ou impossível.

O mundo representado por ti não é nosso mundo,
 mas deve ser representado como se o fosse.


José Lima Dias Júnior — 22.11.2013

Entre o real e o imaginário


Desnudar a realidade que nos consome
 — que embasa as aporias e interpretações do mundo ilusório — 
 (não) consiste na mera elaboração de si mesmo.

O ato interpretativo se torna concebível quando a flor
não traz o medo na ponta do espinho para interpretar
o que criamos, já que as realidades são construídas —
ou imaginadas — por nós mesmos.

Nesta manhã cigana um ato revestido da plasticidade
humana, que se move entre o real e o imaginário, tem
como intento entender o universo que inventamos.

José Lima Dias Júnior — 22.11.2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Entre você e eu

Arte: P. John Burden, pintor e ilustrador canadense.

Tenho em mim as dores das manhãs,
como a luz, embora seja duvidosa,
terei a certeza que o sol seja de uma
tal grandeza que clareia a existência
dos corpos.

Vejo nele um único todo, já que existe
uma verdade naquilo que a natureza
me ensina.
O corpo totalmente espírito anuncia que
existe uma conexão física entre você e eu.
Assim, meu corpo ferido não sentirá dor alguma,
apenas perceberá o ferimento na pele nua.


José Lima Dias Júnior — 22.11.2013

Inquietante estranheza

Arte: Johny Palacios Hidalgo, pintor peruano.

As palavras constituídas
pelo círculo e pela linha reta — respectivamente —
da cotidianidade se deslocam no tempo 
extinguindo ou criando ecos
na medida em que o homem  transita por elas.

Os dias apresentam contornos fugidios —
sendo alguns destituídos do desencontro entre personagens
e outros dotados de alegrias —
que manifestando-se em situações prosaicas do cotidiano
procuram reforçar as verdades ou proposições
assentes na inquietante estranheza da comovente manhã.


José Lima Dias Júnior — 21.11.2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Entre nós...

Arte: Escha Van Den B., pintor holandês.

Essa ausência que nos corrói e nos sulca
é também em si mesmo uma dor que sangra,
pela qual somos atraídos para fora de nós mesmos.
Isso acarreta uma redefinição das fronteiras
que delimitamos entre a ficção e o real.
Mas na realidade, sem nós, elas não existiriam.


José Lima Dias Júnior — 20.11.2013

Outros espaços

Arte: Alexeu Slusar, pintor ucraniano.

O mar, o cais, o porto, o barco
são indicadores de concretude
espaços-temporais na distância
de nós dois.

A casa, as ruas, a cidade e seus lugares...
outros espaços intercalados a caminharem
com suas ausências e dores.

Meu espaço é homogêneo e vazio, mas,
carregado de qualidades mesmo sem ter
você regida por uma lógica da incerteza.


José Lima Dias Júnior — 20.11.2013