Um coletor de
raízes esquadrinhando as árvores disse ao pequeno demiurgo-menino Zorah:
— O sol após
bebericar a luminosidade da noite anterior e compartilhar de luz a manhã
nascente havia partido deixando apenas a escuridão brotada da madrugada
embaraçosa que se recostava, satisfeita, nas sombras.
Dito as
palavras fez-se um súbito silêncio... O garoto ficaria imóvel. Mas somente por
um segundo.
Uma garoa
havia se transformado em chuva intensa. Com passos lassos, o demiurgo-menino sentia
o frio cortando sua face feito farpas.
Sedento, Zorah
resolveu beber um gole do brilho da última estrela cadente. Das derradeiras
palavras surdas a distância onde uma rajada de vento chocalhou o vislumbre do
seu rosto... Uma brisa fria assoviava pelas fendas — de um pretérito imperfeito
— enquanto os dias tétricos vindos das profundezas da terra borbulhavam dentro
de si. A porta abrindo-se suavemente fez entrar a luz da manhã encharcada com a
água de um orvalho venturo quase catapultado pelo frágil pólen.
O silêncio é
quebrado por gritos e grunhidos. — Vá pra casa! Você é apenas um menino! — Pronunciou o velho homem.
Zorah parou,
analisando o som vibrante que enchia a noite vazia. Observou o gotejar do
sangue brotando das flores do mal que em prantos tentavam se levantar do
pântano lamacento. Um espectro surgiu da escuridão, atraído pelo perfume das
rosas que jazia ali reduzidas ao silêncio e indefesa.
Pelo caminho
viu figuras diáfanas congeladas no tempo, como a silhueta de um corvo recortada
e pregada em folhas de um débil carvalho decaído. Com os olhos perplexos e o
cansaço caído no caminho, Zorah, quebrou o gelo fino que encobria os galhos
ressequidos que sem vida estavam prestes a chorar.
Pedaços de
folhas mortas encobriram a senda. O velho ergueu a lamparina, sua luz trêmula
ia iluminando a vereda íngreme que do chão enlameado via-se os vermes
reluzentes felizes pela vida.
Quando a chuva
finalmente cessou foi possível ver a luz prateada pela superfície, onde naquele
miserável e úmido arremedo de mundo seres ignotos amargurados deixavam seus
esconderijos.
Arcanjos
tentando decifrar à claridade do alvorecer vasculham nas sombras os detalhes
macabros encostados à parede. À noite rasgada ao meio para passar uma nuvem
espessa que se precipitava acima da floresta sombria anunciava a última e fuga
esperança.
Continua...
José Lima Dias
Júnior — 11.10.2013
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