quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Universo matemático


Um número finito enreda
num simbolismo rudimentar
uma equação formulada em signos cabalísticos
que representa a alma incógnita de um Ser.

Observando rigorosamente os resultados obtidos
pela estranha lacuna reconstruímos as coisas
pelo pensamento, que num plano mais profundo
podemos encontrar o mundo concreto num quadrado, num cubo,
na medida de uma área, de um volume...

Numa operação aritmética, somos abstratos, objetivo, subjetivo e geral.
Somos símbolos múltiplos, homogêneos e heterogêneos entre si...
Num expoente associado à quinta potência, onde intervêm curvas, as cônicas,
e retas, cuja descrição combina com os movimentos incomensuráveis para compor sua trajetória algebricamente irredutível.


José Lima Dias Júnior — 31.10.2013

A procura do caminho...


Ó, homem de bem mostra o caminho
e guia os passos de quem procura
descobrir as verdades que se ignoram.

Faz-nos conservar a invenção de todas as artes,
testemunhando à prática da vida terrestre
sem conflitos com os obstáculos sensíveis, com os limites
e as certezas que nos enganamos algumas vezes.

Dá-me a garantia subjetiva que esta senda existe
e que distinta no tempo eu possa percebê-la.

Meu estar vivo como coisa —
Ser, que pensa, come, corre e trafega pelas ruas —
me garante a existência e a natureza de ser o que sou,
mas bem próximo de nós.

É solto e infinito meu livre arbítrio, contudo apenas uma carência
em mim que estende para além da minha pobreza depende
da existência de Deus.


José Lima Dias Júnior — 31.10.2013

Teu olhar


Na medida em que seu olhar se revelou,
ele próprio, como um romance,
desentediou uma região suficientemente extensa
onde permanece escondidas as raras flores.
Portanto, é necessário ir além.
Caminhar ao longo das veredas de si mesmo cuja
trama é tão cerrada quanto o instante que nos extraviou.


José Lima Dias Júnior — 31.10.2013

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Nossos rogos

Imagem: Henri Cartier-Bresson, 1975

Quero estar livre da palavra de ordem
Das interferências abusivas...
Da ameaçadora sombra,
Do incômodo peso...
Das intoleráveis restrições que
Apesar de todos os nossos rogos não
Consegue nos silenciar pela indiferença,
Pela alheação, pela náusea, que por fim
Lá fica a insensatez vestida de esperança.


José Lima Dias Júnior — 30.10.2013

Aquelas palavras...


Logo de manhã cedo
as línguas se agitam
espalhando palavras
— por toda cidade —
vindas também pelo
mórbido prazer de bisbilhotar.

Depois de ligarem a TV, caras
distraídas deslizam-se suavemente
a procura da natureza humana.
Invisíveis aos olhares da rua não se ocultam
no sussurrar dos transeuntes que guardavam
o silêncio esquecido das palavras, porém desenhavam
emoções com a beleza da manhã.


José Lima Dias Júnior — 30.10.2013 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

No romper da aurora


Olhando o relógio,
no último minuto,
perguntei à derradeira hora:

— Por que são vãs todas as manhãs?

Ela respondeu:

— Para que acumulem, nos intervalos de tempo,
as queixas humanas enquanto os sonhos e desejos
vêm a caminho.

Alagadas e intransitáveis as sendas confluíram
como rios que não encontrando outro caminho deságuam no mar.

Um universo arrebatado de entusiasmo
transcende como o voo e o canto das aves
decifrando os segredos do crepúsculo da manhã.
Percorrendo em cada linha, redivivos avançam com lentidão de caracol.


José Lima Dias Júnior — 29.10.2013

Orvalho da manhã


Sobre a folha repousa o orvalho
que se harmoniza com a fotossíntese
noticiando que o dia já vem a caminho.

Avançando lentamente, o Sol anuncia
com voz vibrante em qualquer cruzamento,
acostamento ou esquina a luz solene que invade alma.

Desprendendo-se lentamente raiou o dia com sua luminosidade
a refletir nas folhas outonais a luz do seu olhar...
Não tardou mais que um instante e já era visível o claro no céu.


José Lima Dias Júnior — 29.10.2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Poemeto


Bora!
Vamos
Embora
Que a luz
Da aurora
Te chama
No meu quintal.


José Lima Dias Júnior — 28.10.2013

Livres


Não podemos ser reduzidos à obediência
e muito menos compartilhar da cumplicidade criminosa.
Não me permita ser parte da escória, nem da vilania que lhe rodeia.
Meu partido é minha Fé que dar ordens a mim mesmo.
Vou amarrar um anzol na ponta da linha do Equador pra filar a felicidade
E soltá-la em seu coração ingovernável.
Agarramo-nos a tudo... Nada de ir embora. Se a sensatez nos faltam
Inventemos a liberdade sem hora de acabar.


José Lima Dias Júnior — 28.10.2013

Aonde a desilusão chegava


Voltarei a ver o rodopio do vento
Mas, não a vergonha que cai sobre vós
Erguerei verso a verso a manhã que me roubaste.
A minh’alma em loucura transitória reza aos céus
Esperando demasiada pelo vosso engano que
Abandonou ao destino aonde a desilusão chegava.



José Lima Dias Júnior — 28.10.2013

Que seja...


Que meu grito não seja
uma morte anunciada.

Que o tudo não se acabe
no meu nada.

Que a mentira não supere
a verdade.

Que a senda fora do lugar
não se perca na estrada.

Que sua vontade
não se confunda
com meu desejo...

Que o passo que dei
pelo indigente caminho
leve-me até você.


José Lima Dias Júnior — 28.10.2013

domingo, 27 de outubro de 2013

Depois da morte


Um átomo infinitamente pequeno
Resiste contra um aguilhão torturante
Gerador da amoralidade factual.

Para percorrer os descaminhos
Dos tempos idos, o homem avança desmedido
Pelos deslocamentos de todas as perspectivas.

Alegre sobre o palco terrestre naufraga na lama da sociedade.
Cópia desbotada de si mesmo, impresso em papel de baixa qualidade,
Junta depois da morte todo o esforço que sobrou.


José Lima Dias Júnior — 26.10.2013

Além de mim


Olhei para além de mim
E vi um futuro já vivo
Na esperança de não poder viver
Envolto em sombras pela ilusão do amor
Onde tudo se mistura pacificamente entre si.


José Lima Dias Júnior — 26.10.2013

Mergulho interior


Dia e noite a fio,
Os homens cultivam
Com afinco seus afazeres
Colhe da rotina flores do ócio,
O infortúnio, a desilusão
O riso indigente, o desatino perdido...

A vida se debate em agonia
A esperar pela hora da redenção
Que se instala no limiar do instante
Esquecendo todos os passados
Quase sem lembrança acende a esperança
De que a vida ainda vem, de que atrás do horizonte
Em cuja direção eles caminham a felicidade se esconde.


José Lima Dias Júnior — 26.10.2013

sábado, 26 de outubro de 2013

A vida


A vida disfarçada em aparência
esconde-se atrás de um arbusto
procurando, no fundo, a metamorfose do homem
para que fosse enunciada uma sublime felicidade.

Grita alto e nada a consola. Sob o mesmo infortúnio,
o homem, inundado de ilusões,
busca a verdade num leito de rio derramando sobre ele
um rosto humano que se liberta de sua miséria.


José Lima Dias Júnior — 26.10.2013

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Impressões súbitas


Arrastado pelas impressões súbitas,
Liquefazendo a cotidianidade,
Vem o dia entardecer, edificando com
Resíduos de uma metáfora a figura na areia.

Retalhando o céu com semirretas matemáticas
Enclausura um deus num espaço delimitado
Para erigir sobre fundamentos móveis
A metamorfose do mundo.


José Lima Dias Júnior — 24.10.2013

Comprando ilusões por verdade


Num pequeno universo cintilante
Derramei um sem-número de sistemas solares
Um astro ilustrado teria congelado o intelecto humano
Onde os gozos do mundo girando nele transbordam como água da cheia.

Um olho telescopicamente mira sobre o alto da montanha e vê o mais orgulhoso dos homens.
À noite, através da vida, o espectro se deixa vaguear pela ilusão.
Assim, pela esperança vã que o limita exilando e trancando num cubículo da exterioridade enganosa celebra a inverdade e não conserva a vida.


José Lima Dias Júnior — 24.10.2013

O rapsodo

Imagem: Raquel Resel


Uma cópia da vida humana
Infinitamente refratada
Observava as estrelas
Impulsionada por metáforas intuitivas
Que escorrem de um leito de rio
À sobriedade da arte.

Então a cada instante,
Como no sonho, tudo é possível,
A liberdade inteira esvoaça em
Torno do homem onde o rapsodo
Narra contos épicos como autêntico
Feito as abstrações que emudece o homem quando as vê.


José Lima Dias Júnior — 25.10.2013

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Espaço infinito


Um espaço de tempo infinito preenche um casulo
Com substâncias imperceptíveis, massas etéreas,
Despontadas pelas partículas de um arrebol
Que mescla em todas as coisas
Restos e sementes do amanhecer
Encerrando no fim da noite
A trajetória ordenada dos astros
Para que do caos se fizesse o cosmo.

Sob o efeito do giro dos girassóis uma massa área se aglomera
Se convertendo em Sol arranca das pétalas a luz
Que irradia, ilumina e aquece a Terra
Não como uma esfera morta em repouso
Mas o movimento do elemento ígneo
Levando a incandescência aos seres singulares.



José Lima Dias Júnior — 23.10.2013

Teia solidária


Fundada numa indução multiforme
a arranha tece metodicamente fio a fio sua teia.
Nesta trama ela quer apenas o sangue de suas vítimas.
Sozinha uma aranha não solucionar ou
amenizar os problemas ambientais existentes.
Cabe as aranhas urdir os fios, cujo sentido é de
uma estrutura de elementos que se cruzam e
interligam como se formasse uma malha.
Ah, se elas pudessem compor uma rede eco-solidária,
onde atingisse todos os níveis de vida da sociedade.


José Lima Dias Júnior — 22.10.2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Vendo a vida passar


Aquela tragicidade ainda mais aguda e alegórica
estranhamente se agita nos meandros da nossas culpas.

Mesmo que tudo o ameaça foi punido pelo seu temperamento.

As palavras que atravessam o espaço livre do cotidiano, para lá
e para cá, arrastam-se para junto da janela pra ver a vida passar.

Do outro lado da rua, o tempo contíguo marcha em direção à angústia humana, presente com trajes festivos.


José Lima Dias Júnior — 22.10.2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Vivência





Os contrários se misturam entre ser e não-ser
numa Vivência dolorosa e inconcebível
somos ao mesmo tempo, sim e não.
Um fluxo em pensamento, gritando em contramão.
tão surdo quanto cego como mera aparência e ilusão.
Oposições lúdicas ocupando espaços 
entre as terríveis abstrações — verdadeiramente presentes — 
que engendra a si mesmo.


José Lima Dias Júnior — 21.10.2013

domingo, 20 de outubro de 2013

Ilusão humana


Toda ilusão humana
admite sem escrúpulo
desejo e ódio.
Ambos são portas de vidros
que se abrem ao abismo das coisas.
À chave para o segredo do mundo, cujo descomunal
pecado se lança sobre a vida, não serve de abertura
para tais fechaduras.


José Lima Dias Júnior — 20.10.2013

Autotransformação

Arte de Taylor James

Em meio a esse conflito que revela a eterna injustiça
Eternamente vivo, constrói em inocência o fogo que em
Brasa queima a fé de um deus contemplativo para o espanto do cardeal.

E a vida à borda do mar convida outros mundos a construir um vir-a-ser
Onde o impulso lúdico do poeta cria um lirismo sem ordenações externas.
Sem trazer consigo lei e ordem fica em contemplação pelo nascimento da
obra de arte sem que o aviltamento úmido dos homens ocupe sua alma.


José Lima Dias Júnior — 20.10.2013

Mundo limitado



O ser em si é trazido
à clara luz desta noite mística
onde o tempo amargo e doce
perdura pela eternidade revelando
o sofrimento de um mundo limitado.


José Lima Dias Júnior — 20.10.2013

Tempo — senhor absoluto


Vi a realidade despedaçada
fragmentada em dias,
semanas, meses, anos...
Em múltiplos tempos autônomos
onde em cada um havia uma autoridade plena.

Percorrendo espaços, o tempo subsiste sozinho,
senhor absoluto.
Assim, imprime em nós a sua marca definitiva, onde
o simbólico ultrapassa em muito do imaginário coletivo.

Se institucionaliza, cimentado por práticas... Mas, também,
corresponde aquele que ilumina que glorifica a vida.
Pronuncia cortejos fúnebres; júbilo da morte.
Unidades temporais que aproximam e distanciam parentelas
que por ocasião do seu luto, choram sua perda.


José Lima Dias Júnior — 20.10.2013

sábado, 19 de outubro de 2013

Nada era...


Quando fui nada
evoquei as sombras
dentro da minha ilusão.
Quando fui tudo inventei o dia
pra preencher o meu mundo com início, meio e fim...
Em meio ao irreal você apareceu lancinante
percorrendo por entre sonhos que o tempo fez chegar.
Que é fácil se perder por entre sendas quando a solidão aparece sem avisar...

E encharcado de estrelas te esperei a noite inteira, porém, vi o dia clarear
Assim, a manhã que se fez presente veio provar a candura que a alma fez cantar.


José Lima Dias Júnior — 19.10.2013

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ávidas manhãs


Restou àqueles poetas trágicos
as covardias dos homens
multiplicando-se na cega avidez das manhãs,
friamente como o reflexo do mundo.

Degustando o orvalho insólito, útil e divino,
que marca o limite que separa da sensatez,
transforma a palavra e o verso em outros corpos
como meio de comunicar o encantamento
de uma transposição metafórica que acena para
a pluralidade das coisas.


José Lima Dias Júnior — 18.10.2013