domingo, 19 de maio de 2013

Anunciação




Giotto di Bondone (1267-1337), pintor e arquiteto renascentista italiano.


Nas férteis planícies vi florescer uma fé idólatra e primitiva, que celebrava e exaltava a figura divina em composições segundo ritmos circulares, isto é, a celebração da vida em torno da divindade. Essa concepção simbólica arcaica estende-se até aos tempos modernos seguindo muitas das regras fundamentais da visão ocidental tão desconhecida ou negada pelo homem contemporâneo. Por isso de qualquer modo  tem favorecido seu afastamento da realidade da vida. As vagas sinuosas da paisagem introduz um elemento primário que assume uma autonomia própria, libertando-se da submissão ao mundo sobre-humano. Vidas humanas imersas na suave neblina destacam-se dos mais variados efeitos atmosféricos e tonais que sugere uma poética infinidade da alma. Algo extremamente leve como o fruto da mais delicada poesia, diluída e espalhada pela tez das manhãs, adormecida nas névoas da noite. Bastante escassa esculpi em madeira a luz matinal, onde os viajantes parando para repousar  abandonaram a maior parte das figurações religiosas, enquanto um grande painel revela a anunciação de um anjo decaído, com uma clara alusão mística, sem obedecer as ordens monásticas traz consigo o fulgor que conduz o espírito a presença de Deus. Torna-se evidente a inflexão humana, fortemente dramática, que se desenvolve em paralelo com a grandeza solitária das figuras humanizadas, todavia penetrante, na palidez violeta das santas mulheres que choram o Cristo na Lamentação. 


Por José Lima Dias Júnior

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