Meditação filosófica...

Num ângulo da paisagem os matizes da realidade se apresentam como intensos reflexos de luz, que atraem complexas sinfonias de cor, para atingir uma concepção poética suavemente adormecida no lirismo da literatura idílica que entoa uma melancólica elegia das coisas.

Porém, a habilidade do homem não é recriar uma realidade natural, mas, encontrar um novo ambiente que o aproxima de uma energia indomável, que surgem como microcosmos, cuja força realística brota de imagens sagrada imóveis.

José Lima Dias Júnior

Alegorias...

A Escola de Athena - Rafael Sanzio

Sem, contudo, renunciar à expressão da própria alma que absorve e amortece a luz das manhãs inclina-se sobre o corpo um sentimento humanista e trágico de melancolia que exprime a sublime transfiguração do espírito humano. 

Anulando o sentido atmosférico da paisagem e desprezando qualquer forma imitativa da realidade, o homem mergulha no vácuo de um espaço não natural, onde um emaranhado de cores frias o coloca diante de um deus mais vingador que fraterno, atingindo autênticos aspectos de uma expressão surrealista. Nesse sentido, os homens flutuam em diversos planos ao redor de um gesto inexorável para viverem em completa solidão,  que parece anunciar um caráter festivo.

José Lima Dias Júnior

Anjos decaídos...

Desfilam diante de nós anjos decaídos que não viveram em consonância com a sociedade do seu tempo. Mas, a crise intelectual e a dúvida religiosa revelam a angústia interior de uma vida sem fé. Absurdas figuras humanas povoam aquele mundo fantástico, passando da luz etérea ao opressivo jardim celestial, brilhantes de chamas infernais.

Nos tons frios e lisos das carnes, afloram expressões figurativas quase irreais que se transforma numa sensível interpretação da alma humana. Como num movimento espontâneo e de significado expressivo busca-se compreender os aspectos naturais das coisas fundadas em premissas poéticas, lá onde as figuras se articulam no espaço.

Propagando-se nas diversas direções, um acorde musical, de suave vibração, atinge  ao fundo uma fenda azul de céu, aberta sobre a paisagem. A composição articula-se  harmoniosamente por entre espaços vazios capaz de nos dar uma imagem ideal do mundo.

José Lima Dias Júnior

Em volta da tarde...

 

É no ambiente das ruas que encontro fisionomias sombrias, indagando delicadamente a realidade quotidiana, cujas crucificações das manhãs se movem com naturalidade nos espaços definidos pelo tempo. O sangue que escorre dos guetos se esfuma no horizonte, libertando-se do peso do realismo humano, para colher o seu aspecto doutrinal. Visível através da janela, o dia repousa em volta da tarde turquesa, seja ela sagrada ou profana, desfilando diante de nós horrendas criaturas perdidas diante da cruel banalidade de uma vida sem fé.      

José Lima Dias Júnior

        

Ditames...

Vittore Carpaccio (1465-1525) foi um pintor italiano da Escola de Veneza.

Entre a realidade e a transcendência há um hiato, uma síntese poética que coloca o homem e as coisas numa mesma perspectiva, servindo-se de valores preso num plano idealizado. É um mundo em abandono, que se exprime no ritmo musical da cobiça e no timbre cristalino de um desejo as representações sádicas do sofrimento humano. Plenamente modelados para serem criaturas dóceis e obedientes estende-se certa aura de melancolia, um universo realisticamente fiel aos ditames do rei, porém a espiritualidade doce e equilibrada dos súditos não demonstra uma contínua capacidade de se renovar.

José Lima Dias Júnior