sexta-feira, 6 de abril de 2012

Os peregrinos de Luzia...

Ela convoca a seu redor todos os desvalidos, que manifestam suas penitências. Eis a imagem sobrecarregada de sentidos, onde todos, que ali estão, são obrigados a entregar-se. Aos poucos, tornam-se silenciosos, deixam de falar e a peregrinação toma seu lugar ao redor da cruz, formando o quadro fantástico da obstinação das figuras simbólicas, dos corpos torturados pela fé.




Homens e  mulheres cujos valores se entorpecem por serem demasiados acentuados pela loucura, pela solidão e pelas privações. Ao longo do cortejo, mãos inquietas acenam para a imagem simbólica que fascina o olhar dos fiéis, premanecendo-os prisioneiros de uma espécie de exaltação religiosa, a prosseguirem, indefinidamente, habitado num silêncio inquietante que os cercam.

Por entre as criaturas aflitas, os homens de Cristo vendem ilusões e esperanças aos que têm sede de consolo, de ajuda. Porém, "o pecador aparece com sua nudez hedionda" e roga ao sagrado o perdão pelos pecados seus. Incrédulos que se tornam prisioneiros de si mesmo, e que "aceita o erro como verdade" e "a mentira como sendo a realidade". 

Alguns espaços arquitetônico-culturais evocados são dotados de função simbólicas, pois, parecem possuir uma funcionalidade real.


Paradoxalmete, homens e mulheres lutam entre si, combatem-se em  nome da fé, onde os fios da trama se entrecruzam e "se identificam com a catástrofe dos mundos". Enquanto, o silêncio da imagem contempla o desassossego dos homens, figuras inquietantes  são ofuscados pelo brilho fugaz da santa imagem que os eternizam em suas noites oníricas.

O sagrado organiza e desorganiza a conduta humana. Pode ser que grande parte da humanidade esteja submetida as religiões, crenças e seitas, onde nossa vida diária será sempre mesquinha, pois elas não revelam o caráter emancipativo da consciência crítica do homem. Por essa razão, os ritos litúrgicos e sagrados que caem sobre nossas cabeças nos aprisionam.

Desde o nascimento somos imersos no mundo sagrado a começar pelo batismo, uma vez que nossa sociedade foi moldada pelo modelo judaico-cristão. Assim, a interiorização das coisas divinas como os hábitos, os objetos de culto, as tradições, os mitos, a liturgia, etc., nos distancia cada vez da complexa compreensão do mundo.

O dogmatismo cristão nos impõe prazeres e desejos. A laicidade não impede o destino da vida humana. Assim, o homem não é uma ficção necessária. O espírito se torna livre quando tiver liberdade de consciência, quando não for influenciado pelas religiões que impede a direção das pessoas, mas que corrompem e infeccionam o espírito das criaturas aflitas com seus discursos e práticas.

Por José Lima Dias Júnior

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