sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Tempo extraviado


Insólitos prazeres de um gesto comum
cuidadosamente preparados com éter
tornam-se coisa essencial sem realizar
ilusão.

Mesmo que tenhamos modificado o desconhecido,
os subterfúgios esquivam-se ingênuos e ardilosos
em que o tempo parece ter-se, durante tanto tempo,
extraviado.


José Lima Dias Júnior – 31.01.2014

Linhas infinitas


Quando fui considerado o mal a ser suprimido
pensei em mergulhar nos limites do visível e do invisível,
ao invés de desaparecer para sempre.

Esperei pela conduta das linhas infinitas
que subdivide e ramifica
mesmo lá onde não existe mais ordem,
já que os elementos múltiplos
e hermeticamente circulantes
funcionam como mecanismos de intensificação
onde habitam os espaços definidos.


José Lima Dias Júnior – 30.01.2014

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Suas palavras já não (me) assustam


Sua infâmia não assusta a degenerescência
do meu desequilíbrio psíquico.

Fui um transeunte
com estranhos impulsos
a caminhar pela minha loucura moral precoce,
onde reservei para as noites frias uma mistura
de coisas opostas como sobremesa.

A filosofia da rua não é delinquente
e nem se aparenta com os loucos.
Ela é fruto da nossa neurose social pra nos socorrer.


José Lima Dias Júnior – 29.01.2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Fugindo de si mesmo


Os devaneios e as obsessões avançam
na difícil confissão daquilo que são.
Pela tenebrosa folia da morte,
o libertino e perverso caráter humano
entrecruza-se com a fuga de si mesmo.

José Lima Dias Júnior – 29.01.2014


Teu silêncio


Onde quer que eu olhe
teu silêncio se esconde em toda a parte,
cuja voz tão baixa e muitas vezes disfarçada
permanece indiferente.


José Lima Dias Júnior – 29.01.2014

O vínculo que os une


Sem embaraço e nem vergonha
as estrelas iluminam a noite com
seu silêncio limitado e canônico.

O sólido vínculo entre a lua e a noite
não funda-se através de um movimento de refluxo
mas do desdobramento complexo da rede que os une.


José Lima Dias Júnior – 28.01.2014

Paradoxal


A sombra que envolve a luz
preserva para si a distinção
entre forças coletivas e individuais
germinadas por um tempo estéril.

Um absoluto silêncio repousa numa teia de discursos
onde pontos de injunções tentam determinar
as diferentes maneiras de não dizer
quando não podemos falar.


José Lima Dias Júnior – 28.01.2014

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Complexa obscuridade


A obscuridade em desassossego
não escapava a prescrições tão complexas.
Encurralada pelas infrações cometidas
e de se dizer a si mesma — 
pelos olhos impuros e os atos consumados —
como efeito da tentação e do amor que lhe resiste
surpreende-se consigo mesma e procura desculpar-se.


José Lima Dias Júnior – 27.01.2014

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Palavras — epiderme d'alma


Extinguir as palavras
é impor o silêncio em
suas contínuas transformações
quando as coisas aparecem bem diferentes.
Mas, nas mãos do poeta as palavras,
sempre, há de ser uma verdadeira explosão discursiva.

A nudez das palavras
não é a confissão da carne
a nem a imposição de regras meticulosas
e sim a observação minuciosa de si mesmo.
Sob a superfície dos pecados,
os desvios do homem não pode romper
a linha de convergência do corpo e da alma.


José Lima Dias Júnior – 27.01.2014

Corpo em silêncio


Entre atos e palavras
o corpo em silêncio
ultrapassa amplamente
a possibilidade da escuta.

Se estivermos ligados entre si
por que mostrar ostensivamente o que escondemos,
já que corremos o risco de ser apenas um paradoxo.
Quando assumir ares de ruptura poderá
afirmar sua importância ou negar seus efeitos.


José Lima Dias Júnior – 27.01.2014

Na encruzilhada do pecado


O nefando imperava o mais absoluto Ser
que num afluir de preconceitos incitados
esfacelava os sentimentos afetivos, tão
ardentes, quase vivos.

Hostilizar os transgressores da moral fazia
parte da engrenagem punitiva culpabilizando
como pecadores.

Impudico à luz dos mandamentos,
os pecados dessa humanidade
não serão possíveis de salvação,
mas afiguram-se como uma marca
aterradora, indelével e irremissível.

Dizem que o sagrado é capaz de curar
e que o óleo bento é eficaz para os enfermos.

— Será que serei perdoado pelos meus pecados?


José Lima Dias Júnior – 26.01.2014

domingo, 26 de janeiro de 2014

Cotidiano

Erik Johansson, fotógrafo sueco.

Reconstruí o cotidiano
examinando os caminhos
trilhados sobre camadas de ar
que na contramão das entrelinhas
escorrem os desejos dos corpos
ocultados na tolha fria da noite.

José Lima Dias Júnior – 26.01.2014

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Equilíbrio constante


Entre o realismo inusitado das manhãs,
a alegria permeava-se com a tristeza
e os dias ocupavam diferentes tempos e espaços
num equilíbrio constante.


José Lima Dias Júnior – 24.01.2014

Teia existencial


Na teia da existência o homem é apenas  
um dos fios que entrelaçando-se o fará a
si mesmo.

Meus olhos se viraram para o poente
ao chorar as dores humanas quando
o homem se despenhava nos abismos
existenciais.


José Lima Dias Júnior – 23.01.2014

Por entre as estrelas


Caminhando entre as estrelas
tropecei num asteroide decaído.
Extrai da constelação aquilo de
que necessitava: as linhas imaginárias,
as diferentes figuras que se distinguem
no céu, o brilho reluzente e o conjunto
de elementos que formam um todo coerente.

Bebi um pouco da luminosidade da abóbada celeste
para brindar as lembranças dos meus ancestrais e
com luzes coloridas enfeitei a esperança açucarada
com o néctar das açucenas em flor.

José Lima Dias Júnior — 23.04.2014

Evocando a luz


Uma fenda de claridade
rompe a ausência de luz.
Refazendo, metaforicamente,
o trajeto do escuro ao luzente.

Luz e treva se colocam em comunhão
com o Universo e evocamos em silêncio
uma força vital tão sagrada para nós.


José Lima Dias Júnior – 23.01.2014

Ventre-terra


Um cheiro úmido recobre o ventre como um manto
que abriga o ciclo contínuo de vida suspenso pela
semimorte.
Destinos compartilhados numa teia virtual seguem
o curso natural de um tempo sepulcral.


José Lima Dias Júnior – 23.01.2014

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Olhando para o tempo


Um tempo híbrido
saqueando o passado
imprime o perene e o eterno
quando delimita a fronteira do sagrado.

Traçando a existência a régua e compasso,
os homens nem sempre se pautaram pela
desejada harmonia.

Um fragmento de tempo divino sacraliza
o instante da vida humana, onde cada um é todos os outros.
Assim como, as vozes e os ecos vão invadindo o porvir,
o tempo nos domina.


José Lima Dias Júnior – 23.01.2014

Onírico


Uma revoada de sonhos sobrevoa
minhas inquietações metafísicas onde
uma malha de ecos – teia ressonante –
dialoga e interroga numa tessitura complexa
o aspecto tácito das manhãs.


José Lima Dias Júnior – 23.01.2014

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Tempo insólito


O dia se prende ao verbo ‘amanhecer’
onde o tempo insólito apontando o poente
é o alvor da manhã querendo romper.

O sol ardendo em brasa redige as palavras
ditadas pelo espírito ancestral como forma de
conceber o homem, a existência, o cosmos.


José Lima Dias Júnior – 22.01.2014

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Infinito solene


O infinito com sua gravidade solene
desperta um desejo de pureza sobre
o chão da existência.

Impávido, indiferente, o homem navega
outros espaços guiando a si mesmo
perante a escuridão de uma inquietude
que o torna humano.

José Lima Dias Júnior – 21.01.2014


Sobre minha cabeça

Imagem: Francesco Romoli

Olhar como quem escuta e enxergar
as lembranças com cores carregadas
de significados me faz recordar do céu
da minha infância.

Lá onde nascem os azuis bem dentro de mim
espreitando o céu pálido em contraste com o
véu encardido que encobria o sol ignoramos
até a solidão d’alma que parecia minguar a
esperança.


José Lima Dias Júnior – 21.01.2014

O silêncio detrás do véu


Abatimento e tristeza fazem
ecoar a lamentação das mulheres
onde vinha das ruas os lamentos,
gritos e prantos.
Pairava no ar uma estranha quietude
que aceitava o destino como algo divino.
As mulheres hasteando a sua melancolia
faziam coro com o silêncio que guardava
segredos e desejos inconfessáveis.


José Lima Dias Júnior – 21.01.2014

Intransitiva lágrima


Os sulcos na face
foram banhados
pela intransitiva
lágrima que seus
olhos não deixam
escapar.


José Lima Dias Júnior – 21.01.2014

O tempo que não esperei


A vida esperou por mim
e eu não esperei por ela.
Quanto tempo perdido
olhando da janela.
Lá onde o silêncio se curva,
e quase arrependido, encontra
você.


José Lima Dias Júnior – 20.01.2014

Pranto


O pranto se converteu em água
quando secou a nascente dos
seus olhos.
Ao invés de se decompor, o corpo
se refaz a pedido d’alma que na
areia fecunda tudo faz nascer.


José Lima Dias Júnior – 20.01.2014

Silêncio fúnebre


Quando morri regressei vivo
ao mundo dos mortos superando
a vida com sua camisa de força.

Quando não restava esperança
vi o silêncio contemplando o cio
da noite.

Quando a noite chegava dentro
de si não era anjos e demônios
era a morte a perguntar por mim.


José Lima Dias Júnior – 20.01.2014

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Noites sem luar


As noites sem luar ia despindo suas vestes
marcadas pela saudade do amor que se fora
e a nudez de tez surreal ia submergindo nas
cores do teu céu astral.


José Lima Dias Júnior – 20.01.2014

domingo, 19 de janeiro de 2014

Teu olhar


Numa longínqua tarde, ainda jovem,
presenciei em silêncio o olhar que ela
me dedicou, furtivo e, contudo, cheio
de intenção.

Os gestos dolentes e frágeis da minha
irreprimível paixão ficou contemplando
sua frágil aparência enquanto enveredei
pela noite escura.

Meus olhos pela rua esconderam-se na
penumbra para te encontrar,  já que as
entranhas infectadas não paravam de
sangrar.


José Lima Dias – 19.01.2014

Status quo



Conspurcou seu nome com tais atos
quão necessário à sobrevivência de um
sistema decadente mesmo enquadrado
numa hierarquia de forças que mergulhando 
as mãos na água não lavou a sujidade tão
presente no lugar.

José Lima Dias Júnior – 19.01.2014

Ponto de equilíbrio


As mágoas caindo e se adentrando ao chão
tornaram-se mais tênue pela utilização
de tons pálidos graduando as sombras.

O tempo agitado folheava ausências luzidas
das manhãs sem fim, onde um gesto calado,
de mãos vazias, se equilibrava na beira
de um penhasco.

O dia descalço corria em direção ao horizonte
que envaidecido apontava o poente onde o Sol
ardente e inquieto riscava os quatro pontos cardeais.


José Lima Dias Júnior – 19.01.2014

Nascente


A correnteza do rio depende
do desempenho da chuva onde
a água, soberana, segue seu fluxo
até o remanso.

Como a planta que requer ser aguada
a água também mata minha sede sem
esquecer de seguir seu curso natural.

Adentrar as águas é como o desejo de
saber mais é compreender o fluxo da
vida e a solidão de tantos ais.


José Lima Dias Júnior – 19.01.2014

sábado, 18 de janeiro de 2014

Inquietas calmarias

 
Foto: Pascal Maitre


Atravessando o tempo para costurar
nossas vivências com as raízes do silêncio
sucumbi entre os destroços de um combate
que nunca existiu e peguei carona
na cauda do cometa que partiu
na incerta hora do crepúsculo.

Vi os sobreviventes serem conduzidos para
um local de configurações oníricas onde as
interditas criaturas habitavam a fronteira entre
a água e a terra.
Aniquilaram quase tudo, até a alma sangrando
foi abatida.

No tempo da vida onírica, o fluir das águas corre
para além do ser e do não-ser, onde a vida e a morte
são os dois lados extremos da existência humana.




José Lima Dias Júnior – 18.01.2014