quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A flor do meu jardim

Arte: Elena Filatov, pintora russa.


 À Maria Brasileira da Conceição, "Mãe Sinhá" — flor que compõe o jardim da minha ancestralidade, dedico.

Cultivei no jardim da amizade uma flor de valor inestimável. Com carinho regei a cada manhã mesmo sabendo da nossa cumplicidade sempre presente em todos os momentos. Dela me aproximei pelas intensas e extremamente frutíferas discussões históricas, antropológicas, sociológicas e políticas (não necessariamente nessa ordem) que ocorrem sempre que direcionamos o nosso olhar para a realidade que nos cerca. Mesmo sabendo que os efeitos potencialmente devastadores da cobiça humana pudesse modificar o contexto do belo jardinete a sua beleza não simplificaria, não reduziria e não afastaria você de mim, mesmo que o medo e a falta de esperança fosse uma séria ameaça ao nosso convívio.

As novas configurações simbólicas que do solo brotavam foram forjadas pelas formas subjetivas tão características do nosso tempo. Diante da aridez passei a contemplar, poeticamente, os questionamentos do nobre bardo:

E se não tivesse o amor?
E se não tivesse essa dor?
E se não tivesse o sofrer?
E se não tivesse o chorar?
(Caetano Veloso, It’s a long way)

Sem o amor nada seria possível. Haveria “multidões solitárias”. Os modos de ser dos indivíduos seriam cauterizados pela dialética do ter. Impulsionados para o mundo da aparência, os sujeitos se isolam entre si.


José Lima Dias Júnior — 10.12.2013

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