segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Entregue aos seus próprios excessos

A Divina Comédia — Purgatória — Dante Alighieri

Uma flor inocente
Disse em voz alta:
— Se liberta
humanidade!

Sem uma prece ou fé
estamos destinados a
se alimentar de sofrimentos.

O desatino é o que há
de mais profundo no homem já
que fica inteiramente entregue
aos seus próprios excessos.


José Lima Dias Júnior — 29.12.2013

Infinito caminhar



Criei o infinito para suavizar meu caminhar
porque provavelmente não encontraria outra

maneira melhor que me levasse até você.

José Lima Dias Júnior —  29.12.2013.

Porta entreaberta


Desviei o olhar e vi o silêncio
dizendo que a solidão abriu a
porta e entrou sem avisar.
Não sabe o silêncio que chego
a chorar as dores de outro amor.


José Lima Dias Júnior —29.12.2013

Saudade


Quando me abandonaste
perdi os últimos fios de esperança
onde a dor espalhada pela alma ferida
perguntava por você.

As lembranças em silêncio lamentavam
minha angústia tão presente no seu modo
insólito de caminhar.

E você, quase sumida, na distância do porvir
acena para os desejos que há em nós.


José Lima Dias Júnior — 29.12.2013

sábado, 28 de dezembro de 2013

Negros agouros


A cada manhã vi a morte transpassar os negros agouros
onde a vida, numa vago movimento, reclamava, protestava
e desculpava-se pela inércia que tivera antes.
Os dias em forma de pétalas tinham
se desprendido no vergel do tempo, já que a existência em flor
murchava lentamente soltando gemidos de dor.


José Lima Dias Júnior — 27.12.2014

O tempo que guardei pra você


Eu estava tão em paz
que resolvi saborear a solidão
após semear pelo caminho um ingênuo silêncio.

Recolhendo o mínimo lume da manhã,
para clarear a senda que me leva até você,
conservei as sobras de um tempo esquecido
num frasco de perfume vencido.


José Lima Dias Júnior — 27.12.2013

Sob o calor do sol

Foto: Pôr do Sol, Catolé do Rocha-PB, Jean Veira

No céu, o sol brilha alto e ardente.
Gritam as palavras — rodopiando —
sobre minha cabeça.


José Lima Dias Júnior — 27.12.2013

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Quando a força dos ventos me levou até você

Foto: Michael Kenna

Percorri solidões para restabelecer a paz que havia em mim.
Às vezes tempestuosa a dor de minha alma vagueava 
por entre seu corpo desnudo.

Numa trama tecida por memórias e cenários imaginários
surgiram múltiplas imagens e reflexos, que feito lâminas
cortavam minha pela, fazendo aparecer novos infinitos 
na superfície luzente da sua tez.

Assim, quando furtei a claridade da manhã 
senti o sabor secreto do teu silêncio, 
já que em cada estrofe de suas curvas
as cores dos seus versos se faziam
mais presente na clareza do êxtase,
quando ousei lançar a própria voz.

José Lima Dias Júnior —26.12.2013


O tempo que passou

Foto: Jefferson Duarte

Voltando para casa avistei o meu passado
quando vi as lembranças fixadas na parede.
Reconheci aquele menino com olhar de homem feito
ilustrando o tempo presente.
Por entre cada imagem sagrada enxerguei o lume
da verdadeira fé da minha raiz ancestral.
Reparei que no canto da sala estava o pretérito,
com sua serenidade tão admirável, olhando para mim.

José Lima Dias Júnior — 26.12.2013

Sua senda

Foto: Michael Kenna

Percorrer sua senda é arriscar perder
o que eu ainda não encontrei.
Mesmo sabendo que não existe
corpo sem pecado e alma sem pudor
há pessoas em movimento frenético
potencializando seus desejos.


José Lima Dias Júnior — 26.12.2013

Regressando



A Dona Nem e Zé Maneco, in memoriam.

Depois de tantos anos volto ao local
onde passei parte da minha infância e juventude.
Foi possível encontrar por entre as lembranças
palavras e frases avulsas que um dia deixei cair pelo caminho.

José Lima Dias Júnior — 25.12.2013

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Fragmento do tempo

Foto: Michael Kenna

Vi suas preces ardentes dobrarem os joelhos
diante das súbitas angústias
e das duvidosas esperanças ao olhar para nós.

Olhos fitos na nossa direção miram para além do infinito
onde áridas palavras vem beber os ares das manhãs.
Num passo melancólico fragmentos do tempo pairam na lembrança,
cujas tardes cheias de versos caminham por entre o doce e o amargo
da existência.


José Lima Dias Júnior — 25.12.2013

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Emerso no vago da memória


Sofri em silêncio
quando perdi você.
Porém, te recriei no tempo
da nossa inocência, já que
os sentimentos ficaram esquecidos
em um canto qualquer.

Se a saudade aperta
perturbando-me em pensamentos
mergulho na superfície luzidia que
deságua em você.

Pelo lado de dentro de si mesmo
manifestaram-se num espaço sem referências
atmosferas aborrecidas, apesar da lembrança
não recordar o instante que viveu.


José Lima Dias Júnior — 24.12.2013

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Quando o silêncio saiu para um passeio

Foto: Réhahn Croquevielle, Vietnã.

Um silêncio invade a manhã
aguardando respeitosamente
o limite da sobretarde.

À noite que acenava, penetrável,
com a luz que nutriu do crepúsculo vespertino
entardecia minha juventude em desatino.

José Lima Dias Júnior — 23.12.2013


Teu silêncio


Como lumes pálidos
a dançar na escuridão
o negro infinito adormecia
longe do alcance de suas mãos.

Espreitando a noite constantemente
vi o vagaroso movimento dos astros
murmurando misteriosas revelações
de um coração impaciente.

Teu silêncio envolvendo todo o céu abria espaço  
ao luminoso caminho das estrelas que coloria a noite
com as cores coletadas na manhã.


José Lima Dias Júnior — 21.12.2013

Absorto em pensamentos


Sinto o tempo vergar sob os meus pensamentos
onde as palavras, cambaleantes, escorregam entre
tropeços sem perder à força daquilo que me pertence.

José Lima Dias Júnior — 20.12.2013


A morte do velho mendigo



Aquele homem comum
que levando uma vida miserável
morrera por excesso de insensatez.

Seu espírito curvara-se
sob o peso da sua ignorância
já deteriorado pelo tempo.

Muitas vezes escarnecido pelos algozes
fora arrancado da vida contemplativa sem
corromper a dignidade de sua arte.

Assim, esses homens atormentadores
por se preocuparem demasiado com seus interesses pessoais
e como se enriquecerem não se ocuparam o bastante com as
coisas úteis da vida.

Em verdade, as palavras que trouxeram enrolada em papel de
embrulho para serem degustadas na mesa fria da hipocrisia e
o discurso que apresentava na ponta da língua foi vomitado
e lançado ao vento.

Necessitando de lume para se fortalecer e fazer renascer,
o velho homem mergulhou num profundo silêncio,
 já que se fizera mais tolo e presunçoso
do que quando deixou a casa paterna.


José Lima Dias Júnior — 19.12.2013

Além dos limites do razoável


E em silêncio a vida se despediu,
sem palavras, deixando-se arrastar
além dos limites do razoável.

Com medo de perder a existência
a liberdade não aceitou a submissão.
E saindo do seu esconderijo
revelou sua inquietação.


José Lima Dias Júnior — 18.12.2013

Quando relegaram o poeta ao esqucimento


Hoje, ao dobrar a esquina vi o abandono
com um rosto e um olhar que transmitia
sofrimento.

Ninguém entendia aquela alma sofredora
que esquecida e banida às loucuras de mocidade
em silêncio buscava compreender a si mesmo.

José Lima Dias Júnior — 18.12.201

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Quando o tempo olhou-o de frente


O tempo passando pela porta entreaberta
desculpa-se por tê-lo feito esperar.
Atrás do ruído da porta ficaram as lembranças,
as feições das mãos e os olhos invadindo o passado
para morbidamente imaginar que a dor de agora não
seja a de então, onde o inefável das palavras compunha
a existência dos homens que vivem a sonhar.


José Lima Dias Júnior — 17.12.2013

Na intensa agitação do silêncio


De mãos postas implorei a vida
a misericórdia sem reticências,
pois, tem dias que ouvir sua voz
já seria o suficiente para prosseguir.

Durante a noite uma intensa agitação
parece-me condenar à morte no momento
em que estabeleço a paz com vossos desejos.

Tantas vezes escapamos aos perigos da ilusão
quando não somente desejou sacrificar-me, mas
ainda esquecer-me no seu coração.


 José Lima Dias Júnior — 17.12.2013

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Vossa mocidade


Outrora minha juventude apresentava sérias limitações, já que o tempo,
 arauto, pronunciava a organização de um cosmo, contínuo, duradouro,
 infinito e concebido como conjugação de esforços.

A disputa verbal que o havia inicialmente inspirado para que tudo se
encaminhasse  de maneira almejada e correta não poderia difundir simulacros
de verdades.

Hoje, o que precisamos é de uma senda que ultrapasse nossas indiferenças!

José Lima Dias Júnior — 14.12.2013


Sinais evidentes da nossa loucura


Sou irrequieto por que minha loucura
proporciona grandes amenidades
ao corpo tosco e a mente em transe quando
ela se lança a penetrar em meus pensamentos.

A loucura permanece entre nós, insensatos bardos,
intacta mesmo que a realidade nos exclua.     
Nossa interioridade, ainda que subjetiva aos olhos
da vossa objetividade não pode ser conhecida ou
transformada sem tocar a lira da existência e do estro
latente em nós.


José Lima Dias Júnior — 15.12.2013

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Deu adeus e foi embora

Arte: Duffy Sheridan, pintor americano.

Sofri em silêncio quando deste adeus.
Ao fitar o espaço vazio em que deixaste
arrastei meu olhar na superfície luzidia de
sua  alma que caia em transe ao ver meus
olhos levantados sorrindo.

José Lima Dias  Júnior — 13.12.2013

Tão alheio e soturno

Arte: Duffy Sheridan, pintor americano.

Acenava das ruas o tédio daquela reclusão
que indefinidamente degustava o brilho da manhã.

O olhar sempre sólido descortinava um pedaço de tempo
onde a esperança calçando as chinelas seguia a pé em
busca da existência.

Pelos arredores de minh’alma, tão alheio e soturno, adornei
com as lágrimas do teu pranto a dor que me restou.
E você, em silêncio, se pôs a não aceitar o desalento.



José Lima Dias Júnior — 12.12.2013

Em meio aos escombros


O medo que nos atormenta há tantos anos
parece não querer sair.
Vítimas deste horror viram através das fendas
todas as atrocidades cometidas.
Em meio às desgraças tínhamos apenas as
infinitas dores internas implorando pela esperança.

Foto:  Alemanha, em 1945 – Henri Cartier-Bresson


José Lima Dias Júnior —12.12.2013

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A flor do meu jardim

Arte: Elena Filatov, pintora russa.


 À Maria Brasileira da Conceição, "Mãe Sinhá" — flor que compõe o jardim da minha ancestralidade, dedico.

Cultivei no jardim da amizade uma flor de valor inestimável. Com carinho regei a cada manhã mesmo sabendo da nossa cumplicidade sempre presente em todos os momentos. Dela me aproximei pelas intensas e extremamente frutíferas discussões históricas, antropológicas, sociológicas e políticas (não necessariamente nessa ordem) que ocorrem sempre que direcionamos o nosso olhar para a realidade que nos cerca. Mesmo sabendo que os efeitos potencialmente devastadores da cobiça humana pudesse modificar o contexto do belo jardinete a sua beleza não simplificaria, não reduziria e não afastaria você de mim, mesmo que o medo e a falta de esperança fosse uma séria ameaça ao nosso convívio.

As novas configurações simbólicas que do solo brotavam foram forjadas pelas formas subjetivas tão características do nosso tempo. Diante da aridez passei a contemplar, poeticamente, os questionamentos do nobre bardo:

E se não tivesse o amor?
E se não tivesse essa dor?
E se não tivesse o sofrer?
E se não tivesse o chorar?
(Caetano Veloso, It’s a long way)

Sem o amor nada seria possível. Haveria “multidões solitárias”. Os modos de ser dos indivíduos seriam cauterizados pela dialética do ter. Impulsionados para o mundo da aparência, os sujeitos se isolam entre si.


José Lima Dias Júnior — 10.12.2013

Quando os dias se desprenderam lentamente

Arte: Helen Cottle, pintora americana.

Virtuosa vida que no silêncio da noite
 cuspiu no prato o sobejo da manhã
 chora, desolada, o desgosto que herdou.

Num movimento de gestos,
os dias se desprendem lentamente
transformando-se em palavras,
embora as lembranças
estejam embrulhadas
em papel de jornal.

José Lima Dias Júnior — 11.12.2013


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O universo que criei


No alvorecer, o sol aponta para o impossível
onde uma letargia entrecortada consomem os
homens submerso num desmedido sono.

O céu devagar cintilava por cima da cidade
abrindo espaço ao brilho das estrelas sem
o pretexto de reformar nossas consciências.

Ecoava entre o firmamento o grito que não dei,
enquanto meu silêncio desgarrado teimava em
chamar a sua atenção.

Sem outra coisa pra fazer fui pescar estrelas no
universo que criei.

Arte: Andrej Mashkovtsev, pintor ucraniano.


José Lima Dias Júnior — 08.12.2013

Sobre suas asas quero ver o infinito




Quando me deste o silêncio passei a viver 
por entre as regiões periféricas da sua universalidade
que paira no exercício inconcluso de si mesmo.


José Lima Dias Júnior — 08.12.2013

sábado, 7 de dezembro de 2013

Humanizar




Vi a angústia misturada aos lamentos deste homem íntegro
onde os gritos de dor da miséria não silenciavam diante da existência.
Acolher com mais alma aquele que nada tem é um gesto nobre que nos
humaniza na convivência com o outro.


José Lima Dias Júnior — 04.12.2013

Minha dor


O lamento que reside em mim
fez morada em minha solidão.
Contudo, o tempo que não passa
me parece esconder a verdade
essencial das coisas.
Essa dor que sangra em pranto,
tão aceita em torno de nós, lateja
a cada ausência sua.

Arte: Santiago Carbonell, pintor equatoriano.


José Lima Dias Júnior — 06.12.2013