sábado, 29 de novembro de 2014

Dolente

Imagem: Vili Gosnak, fotógrafo esloveno.


Não sem razão,
o lugar que o silêncio ocupa
faz às vezes de infinito
ocultando os tantos estilhaços
que há em nós.

José Lima Dias Júnior — 29.11.2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Uma janela no olhar

Imagem: Ivo Oreshkov, fotógrafo búlgaro.


Revisitando as lembranças vi que uma janela no olhar
reproduz uma série de quadros isolados
para ligar entre si os fragmentos que penetram
agudamente nos poentes vermelhos
onde os instantes esfarelando-se se esquivam
da corrosão do tempo.

José Lima Dias Júnior — 28.11.2014

A espera

Imagem: Ozden Sevim, fotógrafo turco.


Há no vazio do silêncio
uma atmosfera de orfandade
quando muitos morrem antes de nascer.

Não demora e a esperança destituída de razão
revela-se subitamente
devolvendo os desejos que lhes são negados,
muito embora traga em forma e em conteúdo
a marca do efêmero, mesmo quando não estamos
voltados para si mesmos.

José Lima Dias Júnior — 27.11.2014

Arreado

Imagem: Ahmed Abdulazim, fotógrafo egípcio.


Cobrir a desesperança com óxido de ferro
é forjar o sal da vida com o silêncio do nada
é provar o travo acre da saudade
é escolher determinado rumo
não vendo nele um fim em si mesmo.

José Lima Dias Júnior — 25.11.204

Silente

Imagem: Giuseppe Grimaldi, fotógrafo italiano.


Mesmo que o silêncio da tarde
[presente na quase totalidade das coisas]
permaneça corroído pelo ácido da desilusão
as palavras não envelhecerão com o tempo.

José Lima Dias Júnior — 24.11.2014

Tecendo a teia

Imagem: Web/Google


Quando a aranha tece sua pungente teia
os fios se unem a sucessão de eventos
que compõem a urdidura.

Diante de tantos e variados fios que se cruzam
[muitos deles conflitantes]
não se limita a esse modo de fazer em constante movimento
mesmo que não perceba o mundo ao seu redor.

José Lima Dias Júnior — 24.11.2014

Tempo líquido

Imagem: Abi Danial, fotógrafo malaio.


Onde o horizonte é mais fluido do que a vida
as lembranças se movem e se perfilam
diante daquilo que não se conseguiu ser
mesmo que percorrendo outras sendas
meu silêncio atinja outro nível de loucura.

José Lima Dias Júnior — 23.1.2014


Sublevação do espírito

Imagem: Mohammed Baqer, fotógrafo saudita.


A fachada da minha alma
foi aberta e envidraçada
para interagir com a loucura.

Qual a razão de estar aqui fazendo algo?

É que não quero a alienação
e a despolitização do outro.
Vivo como um ser errante,
andarilho do mundo dialogando
com o silêncio em busca da razão.

José Lima Dias Júnior – 20.11.2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Da margem do rio

Imagem: Gabriel Bistriceanu, fotógrafo romeno.


Tudo dependerá
do olhar de cada um
e de suas conveniências.

De que adianta a margem do rio
se não alcançamos o outro lado?

Desconstruindo a imagem, o poeta desloca
o limite externo ao ponto de ninguém a ver.

José Lima Dias Júnior – 18.11.2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Das grandezas do ínfimo

Imagem: Robert Semnic, fotógrafo sérvio.


Como fazer durar os instantes
se o tempo insiste em sair por aí
procurando no homem um novo Ser
sem retirar a harmonia e o silêncio
que há n’alma.

Pelas ruas
o louco com sua embriaguez de delírio
asfixia o devaneio e entretêm os transeuntes
com suas inquietações metafísicas,
transformando-se no homo demens que rejeita
e despreza a plenitude da carne.

José Lima Dias Júnior – 18.11.2014

Outras manhãs

Imagem: Mohammed Baqer, Arábia Saudita.


Romper os limites estabelecidos
é ressuscitar tantas outras manhãs
mesmo que a claridade tente se evadir.

Ainda ei de ver os instantes lacrimosos
e melancólicos saírem do encarceramento.

José Lima Dias Júnior – 17.11.2014

domingo, 16 de novembro de 2014

Quando o inefável cria o ser

Imagem: John Moulds, fotógrafo australiano.


O poeta cria seu próprio mundo quando se reinventa
transfigurando-se em outros seres quando alcança
sons, cores e formas diferentes.

Com os olhos cansados e sem vitalidade explora
a exuberância do ínfimo para buscar a exatidão das coisas,
levando-o ao signo do infinito.

José Lima Dias Júnior – 16.1.2014

sábado, 15 de novembro de 2014

Do querer

Imagem: István Kerekes, fotógrafo húngaro.


Quero um canto novo do qual se desprende
o concreto dos silêncios e das palavras
onde os instantes, embora inflexíveis,
serão atalhos desta senda
para que a poesia transfigure esse tempo negativo.

José Lima Dias Júnior – 15.11.2014

Entre idas e vindas

Imagem: Acrílica sobre tela, por Iara Abre - Belo Horizonte/MG.


Amalgamei sons e cores
para reunir os cacos de mim
mesmo que num doce
& amargo tom melancólico
minha loucura adoce o presente
com o eco do passado.

Daí que não posso te oferecer
a degustação do “leite derramado”
já que é preciso ir aonde não fui
e voltar de onde não cheguei.

Tudo em volta do tempo...
Feito labareda incendiando o arrebol.

José Lima Dias Júnior – 14.1.2014

Esforças vãos

Imagem: Kadir Tezel, fotógrafo turco.


Em meio ao fluxo do cotidiano
os devaneios se diluem ao nascer
quando a esperança se aproxima do vazio
ante um espaço que começa a se desmontar.

Quem não deitar boas sementes
sobre os sedimentos da alma não terá boa colheita.
É no deslocamento da existência que devemos
perseguir o caminho.

José Lima Dias Júnior – 14.11.2014

Anelo

Imagem: Abi Danial, Malásia.


Quero um tempo e um espaço
mais retilíneo e uniforme.

Como a ponta de lança que alcança
uma dimensão viva, inteira e visível
onde o silêncio das pedras olha o devir
enquanto o tempo reza antes de dormir.

José Lima Dias Júnior – 13.11.2014 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Passagem do tempo

Imagem: Girdan Nasution, fotógrafo indonésio.



Quando criança achava
que o homem mimetizava
a passagem do tempo.

Era para mim uma presença
abstrata, quase mítica,
que se revelava quase sem querer.

Hoje, vejo que o tempo
é luz e sombra cumprindo seu destino
já prescrito desde o alvorecer
quando evoca da boca da noite
o retorno dos instantes para o subterrâneo
buscando uma forma de existência prenhe de poesia.

José Lima Dias Júnior – 12.11.2014

Quando as manhãs revelam

Imagem: Gilbert Claes, fotógrafo belga.


Quando não amputadas as manhãs revelam
espaços e tempos que se bifurcam
numa outra rota possível,
cuja imagem fragmentada mostra
o deslocamento do olhar respirando
a inércia do tempo.

José Lima Dias Júnior – 11.11.2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O menino e os pássaros

Imagem: Web/Google


Há em mim as cores vivas de infância
quando me metia pelos matos
como os passarinhos.

Éramos indissoluvelmente intrincados
na mesma teia da vida.

Embora despido de esperanças seus voos e cantos 
são prenúncios de um novo tempo 
onde a seiva fazia surgir galhos e sombras 
para o descanso das tuas asas antes de alcançar outras paragens, 
sem oferecer perigo ou desconforto para minha alma de menino.

José Lima Dias Júnior – 10.11.2014

domingo, 9 de novembro de 2014

Vendo o tempo fluir

Imagem: Piet Flour, fotógrafo belga.


Mesmo que tudo
esteja fora do lugar
o arado cindirá o solo
e a nau cortará os mares,
ainda que um tempo concebido sem pecados
aponte traços que revele nossa fragilidade.

Ela estar em todas correntes e na faina que nos limita
para fazer fluir a possibilidade de um novo tempo
assumindo uma condição de catarse,
onde a reconfiguração das cores vivas
é um anúncio metafórico.

José Lima Dias Júnior – 09.11.2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Doce acre

Imagem: Daryoush Danesh, fotógrafo iraniano.


Na mais profunda angustiante solidão do ser
os encontros e as contradições da existência
pulsam silenciosos nos escaninhos d’alma
refletindo na vertente mais lírica do doce acre
a celebração do ínfimo.

José Lima Dias Júnior – 07.11.2014

Claridade conceptual

Imagem: Vichaya, fotógrafo tailandês.


Imerso
numa espera
que não tem fim
brilham no vazio de mim
clarões que se movem para
alcançar a infinidade dos céus
onde todos os intervalos de tempo
tingem minhas memórias diante do real.

José Lima Dias Júnior – 07.11.2014

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Silente

Imagem: Sebastian Kisworo, fotógrafo indonésio.


Quando os silêncios
se somam mesmo antes do percurso
amalgamando minha infância de menino
com a trajetória de um tempo inquieto e inexorável
eis que se alastram ante meus olhos os instantes silentes.

José Lima Dias Júnior – 06.11.2014

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Inefável

Imagem: Nuno Borges, fotógrafo português.


Há uma convergência de olhares
quando nos debruçamos
em meio a afetos
quando elaboramos imagens
de si e do mundo.
Daí que me reencontro comigo
para redescobrir um tempo inefável.

José Lima Dias Júnior – 04.11.2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Verdade que Tempo revelou aos homens

Imagem: Victoria Ivanova, fotógrafa russa.


Havia um tempo torturado e angustiado,
onde os instantes sensivelmente desgastados,
[a partir do momento em que são concebidos]
se revestiam de um novo humanismo,
como sendo algo que se revela
como realmente ele é
e mostrando pela sua própria finitude
que a ambiguidade não é fruto do acaso.

José Lima Dias Júnior – 03.11.2014

domingo, 2 de novembro de 2014

Abandono da fé

Imagem: Vladimir Takac, fotógrafo eslovaco.


Escolhemos a toda hora,
mas a angústia e a falta
se (re)produzem constantemente
nos deixando um tanto enfraquecido
onde poucos se posicionam diante de si mesmo.

Nada é superior a natureza humana
mesmo que o homem adorne-se com uma nova expressão,
tornando sólida sua subjetividade, sem ser imposta
pelas circunstâncias de um tempo mórbido.

José Lima Dias Júnior – 02.11.2014

sábado, 1 de novembro de 2014

d’alma

Imagem: Jay Satriani, fotógrafo indonésio.


Subjazem muitas tristezas
em cada estrato d’alma
onde se manifesta a angústia,
o desamparo e o desespero,
mesmo quando intensamente extirpada.

José Lima Dias Júnior – 01.11.2014