quarta-feira, 31 de julho de 2013

Entrecortando...




Virei minhas ideias de ponta cabeça
pra tirar uma prosa com o infinito.
que por meio de um labirinto,
de reticências, pudesse revelar
a verdade nas palavras,
onde o imprevisível, pairando no ar,
louco e invertido, entrecortou o tempo em versos.


José Lima Dias, 21:16, 31/07/2013.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Diante dos demiurgos




Salvador Dali


Como poeta da dor, do pranto e da morte, cuja minha natureza reacionária me dera epítetos sombrios. Minh’alma que rompeu as trincheiras da noite, bastarda madrugada, tiritava em açoites o talho de pele que me aquecia. Meu novo espírito trafega por entre veredas de cactáceas onde flores solitárias me arrebatam o caminho.

Impávidos espinhos que não temem o orvalho das manhãs, cujos processos pontiagudos de defesa buscam anulá-las. Lâmina óssea situada em meu dorso destrói o tecido subjacente da poesia dos tolos e enche de brilho a verve do insano erudito.

As inquietações desfralda o pensamento dos homens como se fosse um austero combate sobre as forças que os repudiam e abatem. Meu universo poético que emana dos versos da alma, ambíguo como o porvir que junto ao teu revela um mundo distinto.

Elemento místico que em sua plenitude reconhece na face do ventre o diálogo socrático que se manifesta no submundo que há em nós. Transformação poética nascida do útero que me pariu colhe da aurora o tegumento interno do óvulo das plantas floríferas.

Girando em torno da morte arrasta-se a carne para, em decomposição, alimentar outras vidas. Universo dicotômico que se ergue no cerne da angústia reproduz uma realidade incompreensível. Neste sentido, iniciei uma busca ao desconhecido, assim como, da imprevisibilidade dos dias. Deparei-me tingindo com a aquarela da imaginação o voo translúcido das aves de rapina, cujos sons que emitem são substratos líricos de que fala de si para si num monólogo interior frequente.

Não podemos encontrar uma verdade materializada, mas a liberdade excepcional das palavras. Aventuras motivadas pela ousadia, pela capacidade extrema poética de ver o mundo revelando em cada ato humano a vida em sua totalidade. Assim, em uma estrutura triplanar me desloco deste vergel para o Olimpo alheio às epopeias e tragédias antigas.

Por um ângulo incomum, vejo os estados psicológico-morais do homem, o grito lancinante das ruas, a loucura, o comportamento excêntrico, a purificação do luxo, a perpetuação da miséria e a violação dos direitos. E quanto ao Poder, vejo o povo convertido em servo. Assim, distantes e separados tais mundos convergem para uma utopia social.

Em tom mordaz e intercalado pela multiplicidade e pluralidade das manhãs que se agitam ao ver a cor avermelhada do crepúsculo sou posto a dialogar com os deuses. Fui convidado por um demiurgo, (que segundo o filósofo grego Platão, fora um artesão divino ou o princípio organizador do universo) a subir aos céus e a descer aos infernos modelados e organizados pelos homens.  

O existente desconhecido choca-se como mal universal que diante de uma crítica severa e ácida pulveriza os desejos juvenis. Não convencendo a todos, o discurso permanente fica prostrado diante da insensatez divina. Porém, vi em fragmentos de luz à descoberta interiro do homem, da consciência de si, livrando-se das águas turvas de pouca nitidez.

No tocante às expressões celestiais, figuras complexas desfilam ornamentadas em um caráter ritualístico mostrando aos espectadores seus matizes inteiramente alegres e festivos. Algo carnavalesco e efervescente ao olhar da plateia. Sistemas hierárquicos e as formas conexas de atribuições distinguem as funções das divindades. A relação entre ambos consistem na livre relação familiar, onde todos foram gerados por Gaia, a deusa-mãe, que sozinha fez nascer Urano, Ponto e Óreas, segundo Hesíodo. Foi em conversa com Caos (primeira divindade a surgir no universo, no dizer de Hesíodo) que fiquei sabendo que com Urano, Gaia procriou os Doze Titãs: Oceano, Céos, Crio, Hiperião, Jápeto, Teia, Reia, Têmis, Mnemosine, Febe, Tétis, Cronos, o mais terrível de todos os filhos.

Os aspectos ocultos da natureza humana, que se renova com frequência, foram a mim revelados pelos deuses. Contudo, não cabe, aqui, descrevê-los. Portanto, no Olimpo a jovialidade, a força física, o poder sobre-humano é eterno. Já entre nós nada é absoluto.

Aqui, na Terra, um rei-tirano é destronado, perde suas vestes reais, e vaiado em praça pública. Adiante, parei, pensei das lembranças de quando eu era criança e passava a imaginar que nada estava acabado, pleno, perdoado, inocentado... Que sofremos restrição ou reserva, que nada é por inteiro e infinito, que existe limitações, que para alguns não se permite contestação ou contradição; algo imperioso. Com um olhar pueril compreendi que ainda predomina o despotismo, a autoridade arbitrária tendendo à tirania e à opressão. Assim como, não podemos esquecer que somos únicos, superiores a todos os demais. Mas, sim, humano demasiado humano... Preciso me levantar, pois, o dia vem surgindo na linha do horizonte.


José Lima Dias Júnior, 16:46, 30/07/2013.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Força realística...











Pela extensão do seu domínio surge e desenvolve-se outra grandiosa civilização. No jardim do imperador colhi uma ornamentação linear, onde um sentido assimétrico e rítmico se observa na poesia das flores.

A vocação de um mundo espiritual transita na extraordinária fantasia figurativa que a conduz a representação da figura humana. Tocados por uma certa densidade não resta nenhuma esperança no horizonte apesar de tão livres e tão cheios de entusiasmos.

O sentido mágico e abstrato das cores, iluminadas de poemas residentes, nas cortes locais nas quais se escurecem os ecos dos lamentos. Sem renunciar à pura fantasia, o poeta faz florescer uma força realística capaz de celebrar e exaltar os aspectos humanos.

Representando a vida dos homens, nas suas origens remotas, com suas cerimônias e suas festas encontra-se de fato a face da cultura do encontro. Plenos de sentido narrativo os dias aparecem dispostos segundo ritmos circulares.  Isolado do resto do mundo, o artista não idealiza o real, mas apenas faz um retrato fiel do que observa na vida social.

As vagas sinuosas da realidade cotidiana claramente desenhada e pintada a têmpera sobre tijolos anunciam a liberdade. Porém, o homem insiste com seu canto fúnebre ecoar o medo da solidão para, assim, produzir um assalto noturno na alma e fazer ressaltar do fundo claro da noite as suas formas e cores suaves que são compostos pelos desejos humanos.


José Lima Dias Júnior, 19:02, 29/07/2013.

domingo, 28 de julho de 2013

Floração pictórica...

 Dedico esse texto ao meu sobrinho, Daniel Medeiros, pela admiração, generosidade e carinho que tenho a sua pessoa.

Quadro Flores, Van Gogh


Naturezas-mortas que outrora aflorou uma imagem de juventude e de inocente felicidade revestem os átrios e os jardins secretos que, produzem efeitos ilusórios, correm em volta do arrebol. Solenes figuras, desenterradas, estendem-se ao longo dos dias díspares, cujas personagens nuas movem-se com lentidão dentro do espaço limitado de si mesma. Por entre um campo de mosaico surge uma nova civilização, misteriosa em sua origem, exposta as catástrofes do tempo e dos homens. Aludida claramente à gênese de um ambiente singular que não anula o efeito plástico do deslocamento dos pássaros voando livremente entre as frondes presas no firmamento. Inúmeras iluminuras ilustram os valores simbólicos tão diferentes da refinada elegância cromática dos Evangelhos renovando as tradições tipicamente provinciais. Na abstração da cor límpida pintada nos alvorecer das manhãs conservam uma evidência dramática das ilusões humanas que sem uma língua autônoma se aproxima do idioma vulgar dos sábios imortais velados por luminosidades irreais. Nas grandes vias das peregrinações, o homem se desenvolve com o desabrochar das línguas de uma babel popular sintetizando as culturas mais diversas. Com figuras de arcanjos e profetas gravitando por entre os astros celestes sua fixidez sobre-humana acentua-se pelos círculos dos caracóis azuis inteiramente pintados pelo brilho intenso da pluma dos assanhaçu. Além muito além, três anjos em adoração acenam para o amanhecer conservando a expressão simbólica dos sentimentos que escorre de linhas curvas, delineada dentro de contornos dinâmicos, pela mão que o criou. O grito lancinante dos homens voando em volta da imagem contorcida de dor tragicamente destruída pela insensatez humana.


José Lima Dias Júnior, 15:21, 28/07/2013.

Formas simétricas...


Colorido em tons esbatidos tingi sobre uma folha branca a evocação quase perdida de tempos felizes. Sentimentos subterrâneos aparecem decorados pela representação da vida, cujas formas simétricas derivadas provêm das inquietações das manhãs. Uma carga excessiva que violenta as imagens se torna flagrante pelos olhares lineares cada vez mais acentuados e vigorosos das ruas. 

José Lima Dias Júnior,13:01, 28/07/2013.