domingo, 30 de junho de 2013

Da vida bem-aventurada...


Visitava-me frequentemente o passado, perguntando o motivo de tamanha desgraça. Desejando saber o motivo, cruzou becos e vielas em direção ao futuro do presente. Reunidos, examinaram a inocência das ruas, ameaçadora e vibrante, que facilmente revela tudo. Persuadido por vãs palavras tinha a fome na boca e respirava a pobreza que a realidade nos imprime. A verdade, quem vos confiará? Agora, só me resta esperar no tempo oportuno o alimento, o lenitivo pra alma, já que a morte toma de assalto às trevas e sem misericórdia nos lança na obscuridade si mesmo. Amputado o tempo, descansa o espírito da fadiga por ter delimitado a figura humana.


José Lima Dias Júnior

terça-feira, 25 de junho de 2013

Diante do mestre...




Acabaram, em todos os sentidos, as divergências. Porém, não desaparecia repentinamente a sua supremacia sobre o mundo. Ambientes irregulares, onde não havia espaços moldados nem formas poéticas justapostas. Era, na verdade, um lugar sóbrio marcado pela sucessão de erros e tentativas, mas, por vezes, sereno em que cada ponta de esperança marcava um grande passo a frente. O menino que corre para a beira do caminho vê aproximar-se um demiurgo, visivelmente cansado. Acena-lhes para que a manhã repouse e refresque o espírito. Depois de se terem descansados, sentam-se todos à mesa para degustar suas glórias diante da realidade imposta pela austeridade humana. A seguir ao próprio artesão divino, o menino lhe aconselhava a construir um novo tempo, já que estava velho e decidido a não começar antes de ter desenhado o homem não necessariamente como uma pessoa vingativa ou obstinada à barbárie e a selvageria. Mas um ser grandioso e repleto de humildade a caminhar por um campo de flores aquecidas pelo Sol, impregnado de uma luz intensa e contínua, que entra pelo amanhecer e atinge o alvorecer. Adiante, o “velho mestre” murmurou em segredo: 

— Santificarei as crianças e beatificarei as mulheres!


José Lima Dias Júnior

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Alma poética






Cores vivas retratando os diversos prazeres seculares do cotidiano decoram as paredes estucadas das minhas lembranças. Refletem a majestosa sobriedade e a força do imaginário poético que há em mim. Um pouco mais livremente e profusamente desenhados, os sentidos e as palavras migram diante da realidade que me inquieta. 


José Lima Dias Júnior

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Nau dos insensatos




Ó deus da virtude, a ti confiei à vida, o meu estado de espírito. Por isso, inquietava-me o tédio de viver, a morte que arrebatara todos os homens da imundície cometida. Tudo me horrorizava, os gemidos, as lágrimas, além de um louco-homem que fora condenado a ser feliz... Ó nau, que levas os insensatos a deslizar pelo vácuo de um rio que não deságua em mim, mas produz fontes de novas dores, acolhe a natureza humana a quem tudo serve.


José Lima Dias Júnior

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O reconforto do pranto...






Refletindo na sua enfermidade, o homem ver manifestar na sua natureza ínfima o pecado. Presencia cenas dolorosas e trágicas. Preso em laços de uma excessiva vaidade se ver atingido por flagelos e aflições.

Arrebata da noite as dores alheias e, com desejo de suportá-las, convida à angústia a chorar as tragédias humanas. Compadecido com o pranto celeste, as preces se desprendem das paredes de abismos profundos que alcançando a superfície da alma se transformam em sonhos e desejos.

Após a morte de meu pai, colhi das manhãs vãs esperanças, sempre colorindo e adornando os erros que cometi. Apenas me deleitava conservando a sua memória numa obra literária que me encantava totalmente. Contudo, estava disposto a entrar nela e fazer morada onde habita as ilusões.


José Lima Dias Júnior

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O louco homem...






Pelas palavras provenientes da embriaguez produzida pela vida diária, conheci um homem revestido da adolescência inquieta, que se abdicou da luxúria, porventura, do silêncio infame que se agita de suas ignomínias.

Revolvendo-se na lama, seres abjetos, agarram-se em meio ao lodo, fugindo de um mundo vil. Como eles, pressenti que havia um inimigo invisível que desejava ardentemente a celebração indigente das manhãs.

Compelido pelo falta de justiça, prolonga-se a penúria e o excesso de maldade. Que alma tão forte que não se apartava da própria morte, do próprio pecado, donde igualmente nasce a intensa vingança.

A vida que seduz o homem louco, cujo ócio lhe entorpece o espírito, resplandece nas ilusões brilhantes de suas órbitas. Glorificando eternamente o descanso, cobre-se com a sombra incorruptível da sua loucura.


José Lima Dias Júnior